No Brasil, um assentamento é um processo emergente de uma dinâmica social e política que não cessa com sua legalização. Um assentamento da reforma agrária resulta de um processo associativo de luta pelo acesso à terra. Porém, uma vez estabelecido, o trabalho coletivo arrefece, como se o acesso à terra fosse o fim último já alcançado. Por que isso ocorre na maioria dos assentamentos da reforma agrária? Este artigo propõe um enfoque contextual, interativo e ético para orientar a organização política e a gestão social de assentamentos na superação dessa dificuldade. Estudou-se a gênese social do problema e suas implicações organizativas no Assentamento Novo Campo, Município de Barra de São Miguel - PB. A metodologia incluiu pesquisa documental, revisão da literatura sobre assentamentos da reforma agrária e sua organização política e gestão social e entrevistas em profundidade com dezoito famílias. O estudo confirma que um grupo de famílias assentadas não constitui uma comunidade, fundar associações não garante práticas solidárias e documentos, como Aptidão Agrícola, não dão sentido à vida comunitária. Concluímos que, depois do acesso à terra, como meio, antes de um Plano de Desenvolvimento de Assentamento, as famílias necessitam emocionar-se construindo um Projeto de Vida Comunitário, como fim. Nesse, a solidariedade e o trabalho associativo são constitutivos da dinâmica do modo de vida coletivo, pela interdependência entre as famílias para influenciar aspectos do futuro comum que lhes interessa. Desde o início, as famílias estariam envolvidas na construção coletiva de uma comunidade feliz com um modo de vida sustentável.