O Ir? viveu uma monarquia autocr?tica corrupta, violenta e autorit?ria. Atrav?s do apoio recebido de pa?ses da Europa e dos Estados Unidos, a era dos x?s empreendeu um processo de ocidentaliza??o imposta durante mais da primeira metade do s?culo XX. Tal configura??o pol?tico-social resultou na indigna??o de diversos grupos antag?nicos em sua ideologia, por?m unidos no desejo por revolu??o. Liberais, religiosos e seculares, estudantes e marxistas uniram-se na maior insurg?ncia popular j? vista no pa?s.
Entre essas muitas ideologias antag?nicas e vestindo o v?u isl?mico como bandeiras hasteadas pela liberdade iraniana (o hijab era proibido por lei dentro da pol?tica de ocidentaliza??o do governo), mulheres marcharam at? a vit?ria da revolu??o que dep?s o x?. Entretanto, sua movimenta??o iniciou, para a maior parte delas, ainda antes da revolu??o e atrav?s dos estudo dos textos filos?ficos xiitas. Tais estudos buscavam refletir acerca da atua??o feminina na pol?tica, na fam?lia e na sexualidade. O desejo era ressiginificar as novas leis dos x?s (como o direito de votar, ser votada, divorciar-se e tantos outros) de modo que as mudan?as fossem verdadeiramente emancipat?rias e empoderadoras. Ou seja, desejava-se uma liberdade para al?m dos par?metros imperialistas impostos at? ent?o.
Nesse contexto, grande n?mero de mulheres (religiosas ou n?o) abra?aram o Isl? como resposta pol?tica ao x? e alternativa segura diante das incertezas do ambiente revolucion?rio. Assim tamb?m o fez a sociedade como um todo que, ap?s depor o x? Reza Pahlevi, colocou no poder, como l?der supremo, o Aiatol? Khomeini, um dos grandes l?deres da oposi??o, sendo instalado um Estado Isl?mico, no qual as leis s?o baseadas nas premissas do Cor?o.
Paralelo a isso, todavia, uma s?rie de medidas de rep?dio ao ocidente foi instalada e, em tal cen?rio, a regra era clara: ou era-se a favor, ou contra a revolu??o. Essa l?gica teve grande impacto sobre as mulheres que passaram a sofrer diversas restri??es. A mais vis?vel, o uso compuls?rio do hijab, que mais uma vez tolheu sua liberdade, pois, nessa trama de poder, as mulheres representaram o rosto da revolu??o ? e este rosto usava v?u.
Assim como para Reza Pahlevi, a mulher foi objeto a ser ?liberto? e o desvelamento de seus corpos servia para simbolizar uma certa ?moderniza??o? do pa?s; para Khomeini, a conduta moral, o ?retorno aos tempos do profeta? e o cobrimento desses mesmos corpos era a imagem da revolu??o isl?mica vitoriosa.
Portanto, tendo a hist?ria recente das iranianas como objeto, abordaremos neste trabalho as rela??es de poder e viol?ncia a partir da teoriza??o foucaultiana (FOUCAULT, 1985) e o g?nero como categoria de an?lise, no entendimento de Joan Scott (1995), que defende que no??es antigas que comp?em o discurso sobre o g?nero servem para validar novos regimes. Assim, apesar do desejo de controle de ambos os regimes, propomos dar a ver o papel ativo das mulheres na constela??o de rela??es que constru?ram tanto a monarquia, quanto o Estado isl?mico p?s-revolu??o, refletindo sobre as resist?ncias impostas por elas ao poder institucionalizado e violento que desejava conform?-las.