As histórias de visagens no engenho são inscritas no sistema cultural da vida rural que estabelecem valores e regulam comportamentos no cotidiano. Através das obras literárias de José Lins do Rego, Menino de engenho e Meus verdes anos, foram analisadas as histórias aparições para compreender como estas narrativas sobrenaturais agiram como agentes de disciplinamento no cotidiano das mulheres do engenho. Nessa perspectiva, foi importante o diálogo entre as narrativas literárias e a historiografia pertinente ao tema, para entender como as relações de gênero são elaboradas na escrita do autor em sua articulação com o as relações socioculturais. Portanto, é pertinente afirmar, que os valores culturais de época são negociados e reinventados numa íntima relação com aquele mundo sobrenatural, servindo este para perpetuar e/ou formular um modelo de mulher aceito na sociedade açucareira. Regulando principalmente a sexualidade feminina, tais lendas ajudaram a perpetuar um ideal de mulher assexuada, docilizada e recatada ao lar doméstico, ainda que muitas algumas figuras femininas escapem às regras morais. Metodologicamente, esta proposta aponta para uma dimensão cultural, interrogando sobre as representações simbólicas do universo sobrenatural que perpassa a literatura de Lins do Rego, considerando como os seres fantásticos também partilhados pelos moradores dos engenhos, compunham um universo mental de época e regulavam comportamentos sexuais. Teoricamente, a problemática, apoia-se especialmente nos seguintes referenciais; BACHELARD, Gaston; CHARTIER, Roger; PESAVENTO, Sandra Jatahy.