Resumo Este trabalho compartilha a experiência do Núcleo de Pedagogia do PIBID, do Instituto de Ciências da Educação da UFPA, assentadas na Memória, Participação e Tradição como referências na mediação da relação entre a Universidade e a Educação Básica, considerando os condicionantes históricos e sociais que incidem nas políticas educacionais e regulam a ação da escola e dos professores; e a sócio-cultural diversidade que constitui a Amazônia paraense, território onde a proposta encontra-se em execução. As Escolas que integram este núcleo de iniciação à docência estão localizadas na periferia urbana e na área rural do município de Belém, territórios com especificidades próprias, advindas da ocupação e resistência dos sujeitos que neles vivem e constroem suas territorialidades nas relações que estabelecem com a natureza e entre si, permeadas por relações de poder, configuradas pelas desigualdades de renda e pela contradição centro-periferia; que marcou a ocupação desordenada de Belém, especialmente entre os anos 70 e 80 do Século XX, com a crescente migração dos sujeitos dos territórios rurais do norte e nordeste do país face à especulação imobiliária e o aumento do latifúndio. Na execução desta proposta utilizamos como metodologia o diálogo dos estudantes e professores da universidade com os professores, gestores, estudantes e demais integrantes das comunidades das escolas envolvidas, efetivado por meio de ações coletivas e compartilhadas de pesquisa, produção e comunicação de conhecimentos para promover a interação entre as reflexões teóricas acumuladas pelos estudantes de Pedagogia nos eixos e disciplinas do Curso e as práticas pedagógicas dos professores nas escolas de educação básica. Esse processo tem resultado no redimensionamento da dicotomia clássica existente entre o pensar e o fazer, entre a teoria e a prática e entre a produção e a transmissão de conhecimentos, tanto por parte da Universidade quanto das escolas envolvidas. Reconhecemos que a formação dos professores predominantemente tem seguido um modelo normativo e técnico, que concebe a escola como modeladora de comportamentos, na qual o professor é visto como técnico executor de rotinas que visam à solução de problemas de aprendizagem dos estudantes, agente isolado das decisões e mero transmissor de conteúdos escolares. A superação desta realidade tem sido enfrentada no âmbito desta experiência com o processo formativo dos professores realizado nas vivências dos participantes nas próprias escolas envolvidas; entendidas como espaços-sujeitos coletivos comprometidos com a construção de conhecimentos voltados à compreensão e transformação da realidade, que possibilita a formação humana e omnilateral dos sujeitos, entrelaçando saberes universais e saberes locais, conhecimento científico e saberes da tradição, ao considerar e valorizar as experiências de vida dos educandos e dos educadores, para que se assumam como sujeitos críticos, criativos e solidários. A execução dessa proposta tem se efetivado pelo coletivo de sujeitos que a integram, materializando-se nas ações que se efetivam no cotidiano da universidade e das escolas envolvidas referenciando-se pelos seguintes princípios educativos: 1- Indissociabilidade entre Ensino e Pesquisa, entendidos/efetivados como processos imbricados na formação e na atuação dos professores na Educação Básica; uma vez que a formação com base na pesquisa auxilia os professores a se constituírem como sujeitos que produzem conhecimentos sobre o seu trabalho e protagonizam ações de transformação da prática, garantindo o seu desenvolvimento profissional e pessoal com autonomia. 2 - O Trabalho como produção da existência humana, como processo de humanização de homens e mulheres tem orientado o processo formativo dos estudantes e professores da universidade e dos professores, gestores, estudantes e demais sujeitos das escolas participantes da proposta, entendendo-se a necessidade dos sujeitos compreenderem os significados do trabalho na sociedade capitalista e de seu caráter alienante e a importância do domínio de seus fundamentos para a emancipação humana. 3 - A articulação entre Teoria e Prática nos tempos e espaços formativos da Universidade e das escolas participantes entendida como possibilidade de confrontar e superar a visão estreita, que cristaliza a Universidade como o lócus do saber teórico e as escolas e as comunidades onde estão inseridas como espaço onde circula o saber empírico; 4 - A Interdisciplinaridade, inspirada na perspectiva Freireana de educação fundamenta os processos formativos realizados no âmbito dessa proposta, com os estudantes e professores da universidade e com os professores, gestores, estudantes e demais sujeitos das escolas participantes, que assumem a dialogicidade entre os sujeitos, entre os saberes da tradição e o conhecimento científico e entre as áreas do conhecimento, como fundamentais na: produção-comunicação-apropriação dos conhecimentos, construção coletiva do currículo e na organização do trabalho pedagógico nas escolas; 5 - A cultura, entendida no plural, como a diversidade de modos de ser e viver, de saber e fazer das populações do campo e da cidade da Amazônia em seus processos de significação simbólica, lutas, resistências, inovações e cosmologias que se traduzem na produção de autoimagens, signos, valores e linguagens; tem se constituído como referência na constituição das identidades individuais e coletivas dos sujeitos, como campos de interação, resistências e lutas pela formação de professores e professoras comprometidas com a melhoria da qualidade social das escolas públicas; 6 - A memória como lembrança que se guarda no inconsciente, como guardiã de informações que fixam e reproduzem comportamentos e atos mecânicos encadeados quer a propósito da recordação ou do esquecimento, do silenciamento ou da visibilização tem sido assumida como componente importante na formação de professores e dos demais sujeitos nesta proposta, e incide na construção, reconhecimento e negação de identidades individuais e coletivas, face às relações de poder e desigualdades existentes na sociedade; 7 - A Organização Social e Política constitui referência fundante na formação inicial e continuada de professores, entendendo-se que a participação dos educadores e educadoras nos movimentos e organizações sociais com suas estratégias organizativas locais e seus desdobramentos incidem qualitativamente na disputa pela hegemonia na sociedade, na definição e implementação de políticas públicas e na afirmação da educação e da escola pública como direito humano e social. Ao elegermos a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos, como etapas da Educação Básica onde esta proposta efetiva suas atividades, as ações que realizamos têm priorizado como intervenção nas práticas pedagógicas das escolas envolvidas o fortalecimento do trabalho interdisciplinar e o enfrentamento da fragmentação, da rigidez e da hierarquização que ainda são predominantes na organização curricular de base disciplinar, assumida na maioria das escolas públicas e privadas de nosso país. Palavras-chave: Formação de Professores, Políticas Educacionais, Movimentos Sociais, Emancipação Humana Referências ALMEIDA. Maria da Conceição de & CENCIG. Paula Vanina. A natureza me disse / Francisco Lucas da Silva. Natal: Flecha do Tempo, 2007. ARROYO, Miguel Gonzales. Pedagogias em movimento - o que temos de aprender dos Movimentos Sociais. Currículo sem Fronteiras, v. 3, n. 1, Belo Horizonte, jan/jun 2003, p.28 49. Disponível em http://www.curriculosemfronteiras.org/vol3iss1articles/arroyo.pdf. Acesso em 06 outubro de 2017. BERGSON, Henri. Memória e vida. São Paulo: Martins Fontes, 2006.