UM CORPO ESTRANHO NA QUADRA DE AULA: análise da negação do corpo gay nas aulas de Educação Física Joanna Hariel de Almeida Carvalho/joannahariel@hotmail.com/Universidade Federal do Piauí - UFPI Mesaque Silva Correa/ Universidade Federal do Piauí - UFPI Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e Educação Física Escolar - GEPEEFE/UFPI/CNPq Eixo Temático: (Educação, diversidade e Inclusão Social - com ênfase na relação entre valores educação, culturas e movimentos sociais). Resumo A tempos que estudiosos das Ciências Sociais e demais áreas de conhecimento denunciam o caráter arbitrário da dominação masculina em relação às orientações sexuais diversas, sobretudo quando se leva em conta que as orientações sexuais diversas historicamente tem sido alvo de negligência e marginalização, deixando de desconsiderar os valores e os méritos das diferentes formas de expressões afetivas e eróticas do ser humano, por apresentarem como uma ameaça, aos padrões heterossexuais de ser e viver. Ao estudar a literatura gay no Brasil, temos observado que as relações homossexuais acontecem na maioria das sociedades na margem da marginalidade ou no invisível da privacidade do segredo. Muito embora, as discussões referentes à sexualidade em território brasileiro sejam antigas, complexas e, extremamente polêmicas. Porém, ainda que os resultados dessas discussões sejam quase que invisíveis no plano social, são necessárias para a oferta de uma educação igualitária e compromissada com a formação de um sujeito que seja capaz de compreender e aceitar as diferenças sexuais. No plano educacional, esta dicotomia também se faz presente, nos documentos legais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, em seu artigo 2ª ressalva que entre as finalidades da educação escolar está o "preparo para o exercício da cidadania" (LDB, 1996. Art.2). A referida lei também expõe que uns dos princípios do ensino é o pluralismo de ideias (LDB, 1996, art. 3) que garante ao professor o direito a discutir e defender determinados pontos de vista que não firam os princípios norteadores expostos nos Planos Nacionais de Educação. Ainda no ano de 1996, foi criado pelo Ministério da Educação, os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs ? documento norteador de como as escolas devem sistematizar seu ensino e de como avaliar os alunos. Juntamente, foram criados os temas transversais dentre eles, o de Orientação Sexual, o que significa que essa temática deveria estar presente nas diversas áreas de estudo, e que essas áreas deveriam buscar metodologias, estratégias pedagógicas e conteúdos que auxiliassem na compreensão adequada de todos os aspectos que são pertinentes a este tema ? tabus, diferenças, tolerância e pluralidades. Portanto, ainda que os documentos aqui citados representem um avanço na educação e no currículo educacional brasileiro, é necessário transformar no solo da escola a teoria em prática e que, por parte dos agentes escolares[1], sejam estruturados processos educativos que levem os alunos em processo de formação, perceberem que a identidade sexual não é única e que é preciso considerar a existência do outro, que é diferente, possibilitando caminhos para a construção das subjetividades. Pois, segundo Garcia (2000) quase sempre os atores sociais ao se depararem com as condições e contradições da cultura contemporânea, parece que estão se relacionando com algo estranho. No linear, desse estranhamento, o diferente ? aquele que pensa e vive oposto a mim, se apresenta como uma noção de categoria que se manifesta e pode indicar um gozo simbólico. Notadamente, que essa discussão, precisa ser considerada pelos profissionais da Educação Física, uma vez que nesta área de atuação profissional, a temática da homossexualidade quase sempre é silenciada. Na própria literatura científica da área, a temática da homossexualidade é raramente explorada. Todavia, a sexualidade é um objeto preferencialmente legítimo para a disciplina que tem por tarefa compreender a linguagem corporal e trabalhar com o corpo em movimento. Entretanto, a Educação Física ainda insiste em colecionar uma história de "glórias, medalhas e exclusões" (RANGEL, 2009, p. 213). Diante de tais apontamentos, o referido estudo teve como objetivo verificar como se processa a atuação do professor de Educação Física junto a alunos homoafetivos. Para alcançar os objetivos propostos, nos apropriamos dos pressupostos teóricos e metodológicos da pesquisa qualitativa do tipo descritiva. Como técnica de coleta de dados, utilizamos a entrevista semiestruturada que foi realizada com 10 (dez) professores de Educação Física que desenvolvem suas atividades docentes em escolas públicas estaduais da cidade de Macapá - AP. Os dados coletados foram submetidos à análise clássica de conteúdos proposta por Bardin (2011), com a finalidade de sintetização de categorias de análises. Este trabalho revela-nos que, no que tange as aulas de Educação Física, há a existência de comportamentos e atitudes preconceituosas e discriminatórias contra os alunos homoafetivos. Encontramos nas escolas, educadores que se dizem (e se sentem) compromissados com o seu fazer profissional, mas mostram-se cegos para as suas ações, principalmente quando questionados sobre as ações didáticas pedagógicas estabelecidas na quadra de aula junto aos alunos homoafetivos. Portanto, conclui-se a não existência de tratos pedagógicos nas aulas de Educação Física para as atividades corporais referentes à questão da homoafetividade, mesmo todos os professores verbalizarem ser cientes da presença do homoafetivo em suas aulas. Palavras-chave: Educação Física Escolar, Corpo, Sexualidade. Referências BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, DF: Senado, 1996. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília: Ministério da educação/Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 2000. GARCIA, W. A forma estranha: ensaios sobre cultura e homoerotismo. São Paulo: Edições Pulsar, 2000. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisas. São Paulo: Atlas, 2013. RANGEL, M. A escola diante da diversidade. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2013.