A observação reflexiva sobre a ação pedagógica pode ser uma estratégia interessante para compreender o contexto educativo, possibilitando a sua transformação. Porém, a observação reflexiva exige um olhar atento. Segundo Madalena Freire (1996), o nosso olhar frente a nós mesmos e ao nosso mundo ainda é um olhar de cegueira, que inibe e paralisa a possibilidade de análise e mudança. A autora sugere educarmos nosso olhar, valorizando o ver e o escutar, para construção de um campo de visão sensível e pensante. Schopenhauer (2010) reafirma a importância do olhar intrinsecamente ligado ao ato pensante, apontando a necessidade de pensar algo diferente sobre o que todo mundo vê. Assim, sob essa perspectiva, o presente trabalho tem por finalidade apresentar a importância do exercício de observação do contexto escolar como instrumento transformador e potencializador da formação inicial e continuada do educador a partir de uma prática investigativa elaborada por bolsistas do Programa de Iniciação à Docência (PIBID), da Universidade do Vale do Taquari - Univates, de Lajeado/RS. O trabalho descreve um mapeamento de observações e registros sobre ações pedagógicas desenvolvidas em aulas de Língua Portuguesa, confrontando a teoria e a prática com base em um olhar crítico-reflexivo. A sondagem apresentada é resultado do exercício de observação e vivência no contexto escolar, que envolveu bolsistas do Subprojeto Multidisciplinar, Núcleo de Letras, bem como de pesquisas investigativas desenvolvidas com a professora da disciplina e alunos do sexto ano do Ensino Fundamental de uma escola estadual da cidade de Lajeado/RS. A prática ocorreu a partir de idas dos bolsistas para a escola com o propósito de observação de aulas, registrando suas observações em seus Diários de Iniciação à Docência. Posteriormente, o grupo retornou à escola para aplicar com a professora da disciplina e alunos envolvidos um questionário sobre as aulas de Língua Portuguesa. O questionário destinado à docência preocupou-se em analisar os objetivos e planejamento do plano de aula, metodologia de ensino e a avaliação da prática. Já para os alunos, foram elaborados questionamentos sobre suas percepções diante da prática, metodologia e postura do educador, bem como a participação e comprometimento discente nas aulas. Segundo os autores Paulo Freire (1998) e Pimenta (2005), a sala de aula, quando observada criticamente, torna-se um campo fértil para a pesquisa educacional por oportunizar ao docente significativas descobertas, de modo que consiga redimensionar suas estratégias de ensino e avaliar sua atuação profissional. Também para o suíço Perrenoud (1993), a prática reflexiva deve ser contemplada na formação inicial dos professores, de modo que faça parte da identidade profissional do educador. Nóvoa (1991) reforça essa discussão, afirmando que é necessário e urgente pensarmos na formação de professores enquanto um processo contínuo e longo, indo além da formação inicial. O autor ainda defende que é na escola que se forma de fato o ser professor, uma vez que é nesse espaço que ele se confronta com a realidade, os desafios e a complexidade do educar. Como resultado, pode-se destacar o quanto a observação, para o educador, torna-se uma importante ferramenta pedagógica, pois lhe assegura a possibilidade de intervir e (re)planejar suas ações pedagógicas e (res)significar conteúdos conforme a realidade escolar. Além disso, para os bolsistas do PIBID, a oportunidade de observar as aulas resultou em sua aproximação com a realidade do contexto educacional, em que puderam vivenciar saberes importantes para aprimorar sua formação enquanto futuros educadores. Destaca-se ainda que os integrantes do Subprojeto Multidisciplinar, Núcleo de Letras, tiveram a possibilidade de confrontar a teoria acadêmica com a prática educacional vivenciada, reconhecendo-as como integrantes e constituintes de um todo. Já para os alunos, essa experiência foi extremamente importante por valorizar e reconhecer a importância de suas contribuições no processo de ensino-aprendizagem, estimulando a formação de sujeitos mais observadores e críticos, como também protagonistas na construção do conhecimento. Portanto, verificou-se que o ato de observar, analisar e refletir o fazer pedagógico é, sem dúvidas, um ato libertador que precisa ser discutido e fomentado na formação inicial e contínua dos docentes, uma vez que possibilita a (re)construção do processo de ensino-aprendizagem e (re)significa a consciência pedagógica e política do ser educador, motivando-o para o aprimoramento de seu exercício. Assim, conforme a concepção teórica de Ghedin (2005), o processo reflexivo só tem sentido quando possibilita uma ação política no campo educativo, portanto, buscar a melhoria e a garantia de um ensino de qualidade pressupõe repensar a prática pedagógica assumindo uma perspectiva crítico-reflexiva pelo viés da observação e ação. Referências FREIRE, Madalena. Educando o Olhar da Observação - Aprendizagem do Olhar. In: Observação, Registro, Reflexão: Instrumentos Metodológicos I. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1996. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 9. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1998. GHEDIN, Evandro. Professor reflexivo: da alienação da técnica à autonomia da crítica. In: PIMENTA, Selam Garrido; GHEDIN, Evandro (Org.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2005. NÓVOA, Antonio. A formação contínua de professores: realidades e perspectivas. Aveiro: Universidade de Aveiro, 1991. PERRENOUD, P. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação: perspectivas sociológicas. Lisboa: Dom Quixote, 1993. PIMENTA, S. G. (Org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2005 SCHOPENHAUER, Arthur. Sobre a filosofia e seu método. São Paulo: Hedra, 2010.