Este trabalho sistematiza pesquisa de natureza qualitativa desenvolvida em âmbito de estágio pós-doutoral, realizado na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no período 2016/2017, na linha de História da Educação. Referido estudo, como percurso de desenvolvimento profissional docente, teve sua organização baseado em atividades de pesquisa e docência no ensino superior, especificamente, no Programa de Pós-graduação em Educação da UFPB e da Universidade Estadual do Ceará - UECE. Atividades realizadas no período ampliaram e possibilitaram desdobramentos no campo institucional, por meio da organização e participação em seminários e conferências sobre História e memória da educação e da formação de professores. A pesquisa apoiada em estudo bibliográfico, documental e história oral foi ampliada e fortalecida com os estudos de Alberti, (2005); Jucá, 2003; Ferreira e Amado, 2006; Le Goff (2003); Mehhy, Holanda, (2006); Bosi (1994); Nóvoa (1995); dentre tantos outros -, os quais orientaram o desenvolvimento da pesquisa, viabilizando uma relação dialógica envolvendo o ensinar e o aprender. A História oral como técnica qualitativa de coletar dados possibilitou reconstituir outras histórias, outros tempos, aflorando um saber ora saudoso, doloroso, permeado por tensões e ressentimentos; às vezes aflorando alegria e emoção, por vezes alterando a forma de contar, de retornar no passado e lá reencontrar pessoas e percursos, ressignificando o conteúdo a ser narrado. Noutras palavras, além de dar visibilidade para aqueles que compõem os grupos excluídos da sociedade e desvalorizados em sua construção sociocultural, possibilita o registro de sua história. A narrativa oral aponta a memória como categoria fundamental na recuperação do passado. A pesquisa, em toda sua configuração foi realizada na região do Cariri cearense, nas cidades de Juazeiro do Norte e Barbalha, com o objetivo de organizar e divulgar dados sobre o protagonismo feminino, a história de formação e atuação profissional de duas educadoras, que adotaram a causa dos deficientes, ao criarem instituições escolares para atendimento multiprofissional, educacional e preparação para o trabalho, respectivamente, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE e o Instituto Pestalozzi de Barbalha. Além da ênfase no delineamento de suas histórias de formação e aproximação a causa dos deficientes, que escolheram apoiar e defender em suas trajetórias profissionais, foram destacadas as instituições escolares que criaram, por sua importância nas formas de organização e efetivação de políticas educacionais, do passado e da atualidade, para promover a inclusão, educação e preparação para o trabalho de deficientes, na região do Cariri cearense. No cenário de importantes transformações durante o século XX, as mulheres se envolveram direta e/ou indiretamente, desde as primeiras décadas, com agenda voltada para a instrução pública. A formação e o diploma de professora, sob a outorga das escolas Normais, era o mais importante título naquele período, para o exercício do magistério. A formação viabilizada pelas Escolas Normais constituiu-se como importante referencial teórico e prático para que professoras, apoiadas por lideranças políticas, eclesiais e sociais implantassem escolas privadas ou, ainda, contribuíssem como educadoras e gestoras dos sistemas municipais de educação, além de outras ações e atividades formativas direcionadas sobretudo às mulheres, de forma que disseminaram o ensino primário e outras práticas apreendidas em suas trajetórias formativas nestas escolas (LOPES, 2015). As educadoras Zuíla e Minerva foram fundamentais para o desenvolvimento dos processos de inclusão naquela Região. As narrativas sobre as educadoras revelaram: 1) lembranças de experiências que foram desagradáveis, traumáticas, por vezes produziram tensões e conflitos, que o tempo não apagou, mas que também foram narradas. 2) os relatos também afloraram dificuldades nas relações com os poderes públicos, caracterizando a fragilidade desse fomento, que em muitas situações, produziu danos às ações desenvolvidas, por vezes interrompidas ou adiadas, devido aos atrasos no repasse de verbas, redução ou mesmo escassez. 3) compreender o lugar dessas mulheres, na transição dos anos de 1960/1970, quando as políticas no campo educacional passavam por profundas transformações, com grandes diretrizes voltadas para a universalização da educação básica, regulamentação da formação e carreira do magistério, novas determinações no marco regulatório, os deficientes permaneciam ignorados, esquecidos, abandonados. 4) constatou-se uma história marcada por muita gratidão e reconhecimento, por parte das narradoras. 5) Diante das dificuldades com a escassez de fontes documentais, o apagamento da memória documental sobre Dona Zuila, pela atual direção da APAE, nos pareceu evidente que, no encaminhamento de algumas problemáticas, a história oral era um ponto de apoio fecundo, a lançar luz sobre sujeitos e temas ensombrecidos ou pouco relevantes para a sociedade. 6) as duas educadoras tiveram passagem ativa no contexto social, mantiveram articulações com representações políticas, órgãos da administração pública, empresas e pessoas privadas, com a finalidade de captar recursos, apoios e reconhecimento quanto a importância, continuidade e fortalecimento do trabalho desenvolvido em prol dos deficientes. 7) A educadora Zuíla Moraes e, a cientista política dos Estados Unidos, Dona Minerva, tiveram em comum a luta pelo deficiente, se envolveram em ações concretas pela garantia dos direitos aos 'sem esperança'. 8) as narradoras evidenciaram que as educadoras foram além de suas próprias possiblidades, investindo seus próprios recursos na manutenção das instituições, momento em que revelaram indignação pela condição de esquecimento da população excluída, sobretudo os deficientes, por parte das autoridades, seja no plano federal, estadual e municipal.