O invisível: poéticas do picho nos espaços escolares. Mila Barradas/milabarradas@gmail.com/UERJ Antonio Ornellas/UERJ Clara Ponciano/UERJ Angela Lopes /UERJ Mariana da Silva Freitas/UERJ Daniel de Freitas/UERJ Eixo Temático: Educação, diversidade e inclusão social - com ênfase na relação entre educação, as culturas populares e movimentos sociais. Agência Financiadora: PIBID CAPES Resumo O presente artigo evidencia que a educação necessita garantir as diversas expressões da infância e da juventude. Atuar sob a perspectiva do desenvolvimento, identidade, valorização da cultura popular dentro dos espaços escolares e evidenciar expressões, como explicita Azoilda Trindade (1994), são novas formas de ser e estar no mundo, mesmo com as formas truculentas de violência ao longo da história de constituição do povo brasileiro. Pensando na nossa diversidade, uma das marcas de expressões mais fortes dentro na educação é o picho. Uma vez que a linguagem do "picho" é, geralmente, encarada e recusada por um plano cartesiano e moralista da educação, não se aproveita a inclusão social, a possibilidade de cidadania a ser trabalhada, ocasionando em um discurso de exclusão que afasta as crianças e os jovens de construir sua própria identidade dentro da esfera escolar. Posto que a metodologia é baseada na inserção, torna-se imprescindível a existência da diversidade como tema de vivência em conjunto. Há, inclusive, códigos dentro do universo do registro através da pichação, como salienta o pesquisador antropólogo Alexandre Barbosa Pereira (2018), existe uma diferenciação entre o conceito de pixação (com "x") de pichação (com "ch"). Enquanto a palavra grafada com "ch" se remete a frases, expressões e inscrições legíveis, o vocábulo com "x" corresponde à escrita que é compreendida apenas pelos integrantes do movimento. O início da pichação ocorreu na década de 1960 com um caráter político, feito por estudantes na época da ditadura militar no Brasil. Mesmo depois de um tempo, algumas capitais ainda tinham registros dos pichos. Com a influência da cultura punk, manifestaram-se novas formas, letras diferentes, um alfabeto próprio para o picho.E conforme o picho foi ganhando uma consistência como uma forma de protesto torna-se um reconhecimento social, porém começou a ser marginalizado, devido às pessoas que praticavam serem moradores de periferias. Compreende-se, logo, uma articulação em grupos que buscam locais de grande visibilidade e de difícil acesso para imprimir suas marcas individuais ou coletivas e, com isso, subverter e problematizar a estruturação da paisagem urbana. Neste trabalho utilizaremos o termo "pichação", por entendermos que melhor se adequa às marcas deixadas pelos estudantes no ambiente escolar. Evidenciando a linguagem artística ou mesmo a expressão espontânea do indivíduo, o processo de registro escrito em paredes é primitivo, porém ainda de forte a pulsão humana ao longo do seu desenvolvimento. Marcas nas paredes dentro do processo do desenvolvimento humano são arraigadas de conceitos morais e estéticos e higienistas, no entanto espaços escolares brasileiros vêm perpetuando durante décadas o encarceramento de indivíduos, o cerceamento do ser o criativo e a imaginação. A liberdade, especialmente no espaço escolar é essencial para o contato mais íntimo com o ambiente e gera uma comodidade que faz o indivíduo se sentir mais parte do lugar que frequenta, e envolvendo o picho, que faz deixar a "marca", a identidade, é possível ter uma maior expansão de liberdade de expressão. É utilizada a arte e as cores de preferência, o tamanho, e com tudo isso, o corpo e seus movimentos são uma das partes mais importantes e necessárias que compõem o resultado final. Todavia, como bem ressaltou Foucault (1997), experiências e práticas relacionadas ao corpo são inseridas no cotidiano escolar por meio de ações docentes e disciplinadoras, que aliadas a um currículo de norma, silenciam toda e qualquer forma de alteridade, imobilizando processos criativos e a construção de uma autopercepção positiva. Dado que tudo em nós é movimento, consequentemente tudo é corpo. O corpo inteiro picha. Existem muitos motivos que levam os pichadores a desenharem ou escreverem com letras de seu próprio alfabeto, seja em local público ou privado. Há necessidade de um questionamento, saber o motivo do manifesto do indivíduo / coletivo, a proibição das "pichações nas escolas" apenas faz aumentar o desejo pelo proibido, propor locais de manifestos é potencializar o criativo e a pulsão do estudante no mundo. Esse estudo nos provoca a seguinte reflexão: A pichação seria uma das possibilidades de manifestação cultural e de expressão das crianças e jovens no ambiente escolar? Propor locais de manifestos não seria potencializar o criativo e a pulsão do estudante no mundo? Sendo assim, dentro de um modelo de educação que acredita na homogeneização do humano, há um burlar do sistema através do picho. Os educadores não devem tolher o estudante em qualquer instante, por terem o pensamento da pichação como algo degradante, mas averiguar o motivo deste protesto estudantil ao invés de potencializar a criminalização, propor outro ambiente de realização de manifestos artísticos. Dessa maneira, a educação estaria compreendendo melhor o jovem e consequentemente fazendo a sociedade enxergar a pichação de uma nova forma, sem ser apenas por depredação da cidade ou como um ato de vandalismo ou marginalização. Palavras-chaves: picho, educação, identidade Referências BONETI, L. Exclusão e Inclusão Social: teoria e método. Revista Contexto & Educação, 21(75), Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências, RS. p. 187-206, 2013. Disponível em: COELHO, Gustavo. Pixadores, Torcedores, Bate-bolas e Funkeiros: poéticas do enigma no reino da humanidade esclarecida. Revista Eletrônica Visagem, UFP, ano 1, volume 1- p.155-172 de 2015.