A inclusão das pessoas com deficiência, TEA e Altas Habilidades na pauta do V CINTEDI: tecendo redes de solidariedade na sociedade pós-moderna.
A ciência poderá ter encontrado a cura para a maioria dos males, mas não achou ainda o remédio para o pior de todos: a apatia dos seres humanos.
Helen Keller
Compreendemos que uma das formas de refletir sobre os caminhos que podem favorecer o processo de inclusão - escolar e social - de um determinado grupo social, é compartilhar experiências exitosas. Assim, no V Congresso Internacional de Educação Inclusiva – CINTEDI, realizado no período de 12 a 14 de julho de 2024, em Campina Grande, Paraíba - Brasil, estudiosos, no âmbito nacional e internacional, compartilharam suas pesquisas no vasto e fecundo campo da Educação Inclusiva. O mencionado evento científico contou com vinte Áreas Temáticas que discutiram os diversos campos da Educação Inclusiva, resultando em quatro E-books.
Neste contexto de pesquisas apresentadas, o presente prefácio refere-se às Áreas Temáticas que discutiram, no V CINTEDI, o processo de inclusão das pessoas com deficiência, Transtorno do Espetro Autista e Altas Habilidades. Os textos apresentados, em linhas que seguem, abordam com maestria dois importantes focos presentes nos caminhos da inclusão: uma concepção da deficiência vinculada aos aspectos sociais e antropológico e os avanços e desafios neste processo de inclusão.
As conquistas no campo das legislações e das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação – TDICs, em alguns cenários, conseguem estruturar as raízes que sustentam o ainda frágil processo de inclusão das pessoas com deficiência, TEA e Altas Habilidades. Compreendemos que já colhemos alguns frutos, mas que ainda não conseguimos romper com arcaicos paradigmas em relação ao mundo e aos outros, impedindo o florescer de tal processo e adoecendo, assim, a humanidade.
Em relação às discussões dos textos que abordam as atitudes das pessoas frente ao TEA, esses nos levam à reflexão da importância do trabalho do psicólogo e do psicopedagogo nas escolas comuns. Estes profissionais podem combater as barreiras atitudinais que ainda estão fortemente presentes na sociedade. Assim, a psicologia e a psicopedagogia se fazem aqui presentes alinhando falas e escutas em torno da inclusão.
Outros caminhos de pesquisas aqui abordados apontam para os estudos interseccionais. Frequentemente, os estigmas construídos em relação ao outro não estão sozinhos, sendo acompanhados de outros fatores, tais como as questões étnico-raciais e de gênero. Assim, o/a leitor/a encontrará, em linhas posteriores, estudos no campo da interseccionalidade entrecruzando TEA, gênero e identidade.
A concepção de interseccionalidade foi sistematizada pela escritora feminista norte-americana Kimberlé Crenshaw com o foco no combate as ações e consequências da violência contra a mulher nas comunidades negras. Para Crenshaw (2002, p. 177) “interseccionalidade é uma conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação”. No campo da deficiência, a situação não é diferente. O gênero feminino com deficiência não enfrenta o mesmo caminho do gênero masculino com deficiência. Assim, as discussões sobre deficiência estão em constante diálogos com outras consonantes às questões étnico-raciais e de gênero.
As adaptações - curriculares e de materiais pedagógicos - também estão em foco. Em alguns casos, no campo da educação especial sob perspectiva inclusiva, precisamos promover adaptações que podem responder às necessidades educacionais específicas dos estudantes com ou sem deficiência. As adaptações podem ser realizadas em salas de aula - comuns e nas SRM - e em atividades extraclasse. É importante perceber que, para elaborar um plano com adaptações curriculares, o educador deve primeiramente traçar o conteúdo programático, selecionar a metodologia e recursos pedagógicos e discutir com os estudantes a forma de avaliação. Seguir estes passos, no processo de adaptação curricular, é fazer pensar no processo de ensino-aprendizagem e na realidade dos nossos estudantes com necessidades educacionais específicas. Conforme Freire (2011, p. 72), “o conhecimento envolve a constante unidade entre ação e reflexão sobre a realidade” e, certamente, o educador deve ter uma participação efetiva neste saber-fazer.
No escopo deste E-book estão presentes também os caminhos que promovem a inclusão - escolar e social - dos estudantes surdos e aqueles com deficiência visual, cegos ou baixa visão. A língua de sinais, a exemplo da Libras, é considerada como a primeira língua da comunidade surda. A relevância da língua de sinais no processo de inclusão das pessoas surdas, discutida nos escritos que seguem, mostra a importância de as escolas comuns desenvolverem práticas pedagógicas com a constante presença de um tradutor intérprete de língua de sinais, a exemplo do tradutor intérprete de Libras, e explorando os novos caminhos da literatura que abordam a diversidade - a exemplo da literatura surda.
Consonante às pessoas com deficiência visual, cegos e baixa visão, os textos presentes nessa coletânea abordam o ensino de uma segunda língua para pessoas com deficiência visual e a importância de uma formação de professores, em todas as licenciaturas, que venha a discutir as habilidades das pessoas cegas ou com baixa visão.
No campo da Deficiência Intelectual, é abordado o direito a educação dos estudantes com déficit intelectual. Compreendemos que o laudo de Deficiência Intelectual não pode jamais ser um documento que vai determinar a não capacidade de alguém assimilar o conhecimento. Diante de práticas pedagógicas que estigmatiza o outro, o estudante com deficiência intelectual pode apresentar bloqueios emocionais e ter dificuldades em se interagir com o mundo e os outros. Segundo Gomes, Poulin e Figueiredo (2010), muitos professores não reconhecem no estudante com deficiência intelectual uma pessoa com habilidades.
Outros importantes focos da educação inclusiva aqui apresentados e discutidos são os caminhos metodológicos que favorecem o processo de inclusão dos estudantes com Altas Habilidades. Estes estudos mostram práticas inclusivas no campo das ciências humanas e da educação matemática com estudantes que apresentam altas habilidades.
Esperamos, prezado/a leitor/a, que o presente E-book fortaleça seus estudos e seja uma inspiração de novas investigações.
Aguardamos você no nosso VI CINTEDI.
Prof. Dr. Eduardo Gomes Onofre - Universidade Estadual da Paraíba - UEPB
Profa. Dra. Margareth Maria de Melo - Universidade Estadual da Paraíba - UEPB
Profa. Dra. Sandra Meza - Universidade do Chile
REFERÊNCIAS
CRENSHAW, Kimberle. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 10, n. 1, 2002. Disponível em
https://www.scielo.br/j/ref/a/mbTpP4SFXPnJZ397j8fSBQQ/?format=pdf&lang=pt Acesso em 21 jun. 2024.
FREIRE, Paulo. Ação cultural para liberdade e outros escritos. 14ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
GOMES, Adriana Leite Limaverde; POULIN, Jean-Robert; FIGUEREDO, Rita Vieira. A educação especial na perspectiva da inclusão escolar: o atendimento educacional especializado para alunos com deficiência intelectual. Brasília: MEC/SEESP, 2010.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. O desafio das diferenças nas escolas. Petrópolis: Vozes, 2010.