A delicada relação entre conhecimentos científicos e tradicionais tem sido explorada pela filosofia, pelas ciências sociais e pela educação. Especial atenção tem sido dada pelo campo de ensino de ciências, uma vez que a escola – e a sala de aula de ciências – pode ser compreendida como espaço de mediação entre diferentes culturas. Nesse cenário, a educação científica pode operar como perpetuadora de estruturas sociais desiguais, quando inferioriza os saberes tradicionais, ou espaço privilegiado de valorização das identidades regionais e decolonização, quando constrói diálogos horizontais entre ciência e tradição. O presente trabalho configura um estudo de caso, no qual práticas tradicionais de manipulação de mandioca para a preparação de farinha e goma fizeram parte dos experimentos e discussões de uma disciplina de Química Geral destinada a professores em formação, na Universidade Federal do Cariri. Investiga-se a aprendizagem de conceitos químicos fundamentais, tais como substância e mistura, bem como as percepções dos estudantes sobre a relevância de tais conceitos para as práticas agrícolas locais. Transformações nessas percepções foram observadas no decorrer da disciplina, contudo a dicotomia entre conhecimento científico e cultura tradicional encontrou pouco lugar nas manifestações dos estudantes. Desse modo, espera-se contribuir com a superação de tal dicotomia propondo uma abordagem que, conquanto valorize saberes e praticas locais caririenses, media a aprendizagem da ciência química.