VANZELA, Alana Morais. (re)produção da relação de dominação gerada pelo patriarcado. Anais XI CONAGES... Campina Grande: Realize Editora, 2015. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/10438>. Acesso em: 21/11/2024 09:33
O gênero é uma categoria analítica, carregada de historicidade sendo concebido enquanto categoria em aberto, corriqueiramente é associada à construção social do masculino e do feminino, diz respeito não apenas, às formas como homens e mulheres se relacionam, mas também, como se dará a relação entre homem-homem e mulher-mulher. Segundo Bourdieu (2002), o gênero também pode ser concebido como: sistema de transferências práticas e/ou metafóricas de significações inscritas no mundo social, objetivado nas coisas, que serve como mecanismo de recuperação dos valores engendrados no inconsciente. A relação de dominação-exploração estabelecida nas sociedades patriarcais necessita ser questionada, pois as ações desempenhadas socialmente possuem uma finalidade que nem sempre visa uma relação igualitária e justa entre os indivíduos. Desnaturalizar o cotidiano não é um empreendimento fácil, ele requer esforço cognitivo de estranhamento sobre as condutas sociais que se encontram internalizadas, porém, faz-se necessário romper com a suposta conformidade com que tais estruturas sociais se apresentam, para que se possa estabelecer subsídios para a resistência simbólica, frente aos antagonismos manifestos. Utilizaremos o filme como instrumento metodológico, visa-se por meio de imagens problematizar a relação de dominação-exploração, pautada em valores androcêntricos. Pois compreende-se que o filme não se restringe a um simples “contar” de estórias cotidianas, pois ele pode ser entendido como uma complexa máquina com propriedade de sintetizar discursos que utilizam-se da semiótica, ele tem o poder de envolver o espectador, fazê-lo sentir-se participante, além de poder ser visto e revisto, discutido e analisado. Na vida cotidiana, as ações dos sujeitos, raramente são pausadas, revistas, e dificilmente são interrompidas, devido as respostas automáticas cristalizadas no imaginário, a não reflexão do atuar social, acaba por reproduzir as ideologias que circulam socialmente como legitimas. O que contribui para que as relações de poder gestam-se livremente, sem nenhuma resistência. Propõe-se ao espectador um mergulho em outra realidade, ou se assim entender, numa projeção desta. Visa-se a análise que ultrapasse as barreiras objetivas, onde o olhar subjetivo possa incidir sobre o micro cosmo, por meio do recurso cinematográfico, por entender que o cinema e a sociedade estão intrinsecamente relacionados e, que o processo de construção do cinema é marcado pela ação do seu produtor, o qual deixa as marcas de sua humanidade. Para Morin (1997), a imagem projetada, não pode ser dissociada da presença do mundo no homem e, nem da presença do homem no mundo. A imagem é uma presença vivida e uma ausência real, uma presença- ausência. Esta só pode ser criada e entendida, por meio da ação do homem. Feitas estas considerações busca-se problematizar como os valores sociais são engendrados, e desvelar os antagonismos encobertos sobre uma suposta naturalidade das condutas sociais. O filme escolhido para esta análise conjunta entre teoria e representação iconográfica é o “Cor Púrpura” (The Color Purple) do diretor Steven Spielberg, considera-se que ele capta com precisão a forma como o patriarcado se articula, bem como, a relação imputada ao indivíduo marcado pelo determinismo de gênero/sexo e/ou raça, quando estabelecida no modelo patriarcal de ação social.