O artigo propõe destacar, por meio da análise crítica interpretativa sob a luz do realismo, se valendo do método qualitativo do estudo de caso, a forma como O Banquete, de Platão, representa a subjetividade homoerótica no contexto filosófico clássico da literatura universal focando especificamente no recorte do discurso do comediógrafo Aristófanes, que compõe um louvor a Eros e uma exortação à piedade religiosa naquele que é conhecido como o conto das almas gêmeas, mito antropogônico que apresenta uma gênese da origem de pessoas homossexuais e heterossexuais com auxílio de alegorias. Em uma fala que é ao mesmo tempo cômica, pungente e trágica, o discurso de Aristófanes deixa entrever uma ontologia, abarcando também a busca existencial pela unidade original, anteriormente constituída de seres duplos e esféricos, seccionada pelos deuses. Com isso, o artigo contesta o ponto de vista, hegemônico no meio acadêmico, de que a formação de uma identidade afetiva e eroticamente orientada para o mesmo gênero só foi possível a partir do século XIX, constituindo-se essa categoria psicológica, psiquiátrica e médica, de acordo com o filósofo Michel de Foucault, no dia em que foi caracterizada em termos de um hermafroditismo da alma, inexistindo, ainda, no passado, conforme essa perspectiva nominalista, uma identidade e subcultura homossexual, tampouco se concebendo pulsões distintas distribuindo-se em indivíduos diferentes, mas tão somente formas possíveis de se obter prazer, indiferentes ao sexo. Nossa intenção é problematizar a fragilidade do modelo nominalista/construtivista diante das evidências fornecidas pela literatura clássica greco romana, ressaltando um ponto de vista realista, trans cultural e trans histórico da identidade gay, por nós classificada como uma categoria descritiva e ontológica ao invés de construída e meramente epistemológica.