Neste trabalho problematizamos que para manter o regime da performatividade a repetição é algo fundamental. Mas, em que se apoiam os regimes identitários problematizados pelos Estudos Gays e Lésbicos? Como são articuladas suas premissas? Pelo menos, uma das possíveis respostas seria: pela visibilidade. Porém, esta visibilidade não se restringe apenas a um “mostrar-se”, mas fazer-se visível politicamente, colocar em evidência a sexualidade, fazendo dela parte indissociável do Eu como faz a heterossexualidade. Esta característica do ativismo gay e, consequentemente, dos Estudos Gays e Lésbicos é trabalhada por Sedgwick (2007) em obra intitulada A epistemologia do armário, no qual disserta sobre a problemática das relações entre o público e o privado e as implicações políticas e sociais ocasionadas pela revelação ou não de uma “identidade homossexual”. Para tanto, se optou por trabalhar com o gênero literário cordel. Posto que esta literatura por muito tempo foi considerada pela crítica como materializadora das premissas heteronormativas tradicionalmente defendidas por uma região visada como machista, falocêntrica e patriarcal. Foram escolhidos dois cordéis para análise: A briga de um gay com uma mulher macho, de Manoel Monteiro (2009) e O casamento do boiola, de João Francisco Borges (s/d). Ao final da pesquisa chegou-se à conclusão de que, mesmo sob crivo do preconceito, as obras propiciam, em seus enredos, a visibilidade de sujeitos que por muito tempo sofreram/sofrem um “apagamento” social e cultural. Isso ocorre pelo registro de entradas e saídas do “armário”, decorrentes da afirmação e negação de sexualidades concomitantes à heterossexualidade.