Propomo-nos a analisar neste trabalho a denúncia de Chinua Achebe de que a novela O Coração
das Trevas, de Joseph Conrad (1902), não passaria de uma distorção da realidade do africano e do
seu continente, numa narrativa eivada de impropérios que vão desde a supostamente grotesca figura
do nativo sob o jugo do império belga, passando pela obliteração da sua cultura e enfim pela negação
da sua própria humanidade. Para a consecução deste objetivo, servimo-nos dos aparatos
teórico-críticos de Edward Said (2011); Vladimir Lênin ([1917] 1987); Albert Memmi (2007);
Claudemar Fernandes (2008); Eric Sipyinyu Njeng (2008); Silva & Silva (2008) e Eni Orlandi
(2012), dentre outros. Estes estudos irão apontar para algumas questões relacionadas à veia
escorregadia da crítica pós-colonial, demonstrando que o romance O Mundo se Despedaça (1958),
de Achebe, não só carece de sustento para as bases das acusações feitas a Conrad, mas também
desemboca num relativismo que termina por equipará-lo ao seu opositor.