ALVES, Paulo. Clara dos anjos: a realidade de uma família negra. Anais VI ENLIJE... Campina Grande: Realize Editora, 2016. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/25920>. Acesso em: 09/11/2024 13:59
Neste trabalho, buscamos demostrar como em Clara dos Anjos, o escritor Lima Barreto apresenta a realidade do negro brasileiro de forma realista e até certo ponto positiva através da vivência de uma família que faz parte do baixo funcionalismo público; sempre denunciando a maneira opressiva e vexatória que os negros vivem no Brasil. No romance, eles são obrigados a suportar o peso da vida e o desrespeito dos da elite. A partir da representação de uma família entre pobre e remediada, o autor tenta apresentar a luta que se exige dos negros para a existência digna, humanizada de um núcleo familiar: como a sociedade os vê, quais as dificuldades que se tem de enfrentar no quotidiano. Nas entrelinhas da obra está codificado o que se precisa para que os negros vivam em paz e sejam felizes, e para serem respeitados nos seus direitos mais íntimos e básicos. O livro trata do dia a dia da família de Joaquim dos Anjos: ele, sua esposa, Dona Engrácia, e sua filha Clara. Este trabalho tenta rastrear a forma como o carteiro e pai da família cuidava do seu núcleo familiar, como ele e sua família se inseria no contexto sócio e cultural do bairro em que vivia, como se relacionava com a vizinhança, a dedicação com que ele cuidava dos seus, e quais os cuidados que ele e sua mulher tomavam com Clara. Esse cuidado, especialmente com as filhas, era de praxe no início do século XX, mas mesmo assim não impediu que Clara tornasse-se presa fácil de um sedutor de classe média e pretensamente branco. Nós cotejamos este romance com outros textos, especialmente crônicas e artigos publicados em jornais e revistas em que o mesmo autor se coloca sobre a mulher e a maneira como ele julgaria que ela deveria ser educada. A educação de Clara foi excesso de proteção, não a deixando conhecer a realidade social em relação à mulher, sobretudo às negras e mulatas que eram vistas simplesmente como objeto de satisfação sexual. O contrário do que o autor pontificava em seus textos de ocasião, de cunho militante. Nesses textos, ele preconiza que a mulher deve ser educada para a vida, para o trabalho, tornando-se consciente dos problemas sociais, especificamente os que dizem respeito a elas próprias.