O presente artigo busca estudar o papel das ilustrações feitas pela artista plástica carioca Vilma Pasqualini para o livro Angélica (2013), da escritora gaúcha Lygia Bojunga, problematizando a forma com que o porco Porto, protagonista, tem sua imagem construída em texto verbal e não verbal. A representatividade da criança negra e a exclusão racial na literatura infanto-juvenil tornam-se, a partir disso, passíveis de discussão, uma vez que Porto é descrito como escuro mas aparece com a pele clara nas imagens que lhe representam. Para isso, realizaremos uma breve contextualização da obra dentro da produção de Bojunga para, em seguida, investigar o papel da ilustração em seu livro sob as lentes da classificação proposta por Luís Camargo (1995), reiterando sua importância ante o leitor em formação. Uma vez assumindo um papel funcional, não apenas decorativo, a ilustração contribui para o debate acerca das consequências das alterações imagéticas do personagem em questão, mostrando que a maneira como Pasqualini retrata Porto, em contraposição à forma como é descrito na narrativa escrita, é subsídio para a problemática da restrição do protagonismo de pessoas negras em nossa sociedade, levando em conta a segregação racial que mancha a história de nosso país. Desta forma, torna-se possível a investigação do impacto do discurso pictórico na leitura de Angélica (2013) e, consequentemente, sua transposição ficcional e recepção pelas crianças e jovens, atribuindo ao ilustrador não apenas um trabalho de produção estética e ornamental, mas autoral dentro do impresso que pode ou não caminhar harmonicamente com o do escritor.