BURNETT, Annahid. A categoria sulanqueiro sob o enfoque da sociologia das profissões. Anais II CONIDIS... Campina Grande: Realize Editora, 2017. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/33022>. Acesso em: 24/11/2024 17:51
A Sociologia das Profissões é uma abordagem teórica ainda pouco utilizada no Brasil na pesquisa de relações sociais no mundo do trabalho, mas que permite uma análise e classificação das profissões tradicionais e surgimento de outras novas profissões. Apesar de as profissões terem origens medievais e em alguns casos origens na antiguidade, a primeira tentativa sistemática de estudá-las surgiu no século vinte. Em parte refletiu a emergência das ciências sociais, mas refletiu fundamentalmente uma grande mudança nas próprias profissões. As profissões como conhecemos atualmente tiveram seu desenvolvimento no século dezenove. Elas foram organizadas de maneira acadêmica e, dessa forma, particularmente anacrônica. O objetivo deste artigo é de assinalar, de registrar o surgimento e desenvolvimento das atividades ligadas à feira da Sulanca, surgida no semiárido da região do Agreste nordestino no segundo pós-guerra, durante as árduas secas dos anos de 1950, na época do desenvolvimentismo, da expansão da indústria no Sudeste do Brasil, e, consequentemente do êxodo rural da região agrestina em direção às oportunidades de trabalho principalmente em São Paulo. A produção de sulancafoi uma “invenção” destes agentes sociais como uma forma de garantir a sua “reprodução social”. Os trabalhadores pioneiros ligados à esta atividade foram denominados de sulanqueiros. Esta atividade se expandiu e estabeleceu esta categoria profissional originária e exclusiva desta região. Portanto, pretendemos assinalar a emergência inédita dos trabalhadores ligados à feira da sulanca, uma invenção agrestina, até então sem precedentes. Como metodologia, utilizamos uma revisão histórica da literatura neste âmbito de pesquisa, considerando principalmente a obra de Andrew Abbott e material empírico colhido através da metodologia da história oral de vida dos agentes sociais que participaram da gênese e desenvolvimento desta inusitada atividade. Concluiu-se que a emergência da categoria profissional dos sulanqueiros foi uma “invenção” dos agentes sociais do Agreste porque não teve precedentes em termos de organização e normas profissionais codificadas e pré-estabelecidas, por conseguinte, resultam em uma contribuição original à sociologia da construção dos grupos profissionais.