Introdu??o: Este relato de experi?ncia surge a partir da atua??o no Est?gio Espec?fico de Psicologia em Promo??o e Preven??o de Sa?de, realizado no setor de obstetr?cia de um hospital universit?rio. Embora a experi?ncia pessoal de cada paciente seja subjetiva e vivenciada de uma forma muito singular, a escuta que prestava a cada uma das pacientes ao longo de meu est?gio, me alertou para algumas quest?es que s?o atravessadas pela opress?o da classe feminina. Os relatos, mesmo resultantes de uma grande romantiza??o cultural da maternidade, muitas vezes deixavam escapar vest?gios de uma busca incessante de reconhecimento e valoriza??o pela sociedade. O pensamento de que somente a maternidade ? capaz de afirmar a posi??o de mulher ? recorrente, e consequente de longos anos da sociedade valorizando o g?nero feminino apenas para fins de reprodu??o. Diante da veicula??o de uma imagem romantizada da maternidade se produz uma idealiza??o desse momento na vida da mulher, e as cobran?as vinculadas a esta idealiza??o podem ser geradoras de opress?o e sofrimento. Historicamente, a romantiza??o da maternidade surgiu a partir da cria??o do papel da ?boa m?e? como uma forma de atingir uma posi??o de prest?gio dentro do grupo familiar. A fun??o de boa m?e monopoliza integralmente a vida da mulher, que deixa de lado os pr?prios sentimentos e desejos em prol do amor dedicado aos filhos. Relato de experi?ncia: Durante os atendimentos prestados as pacientes internadas no setor de obstetr?cia, tanto gestantes quanto pu?rperas, n?o raro os discursos apresentavam sofrimento baseado em sentimentos de culpa, inseguran?a e medo. Esse sofrimento, desvalorizado pela sociedade, acabava sendo negado tamb?m pelas pr?prias mulheres que, diante das dificuldades enfrentadas, sentiam-se impotentes e incompletas. Al?m disso, refletir sobre os motivos pelos quais decidiram serem m?es ainda era um tabu, e para as que conseguiam refletir as falas giravam em torno da busca por uma ocupa??o valorizada, da completude e da reafirma??o da feminilidade. Muitas n?o conseguiam nem pensar sobre o assunto, assumindo uma imposi??o que ? cultural dentro da sociedade. Pensar essas quest?es ao longo de cada atendimento me causou inquieta??es, para as quais utilizo minha experi?ncia em um setor de obstetr?cia como base para a busca de subs?dios te?ricos. Reflex?o e considera??es finais: A maternidade ainda nos dias de hoje ? extremamente romantizada e, como consequ?ncia disso, as dificuldades enfrentadas pelas mulheres durante a gesta??o, puerp?rio e maternidade em geral, s?o negadas e desprezadas. Ainda na atualidade a ideia de instinto materno ? disseminada como uma verdade absoluta e, muitas vezes, colabora com a n?o aten??o ao sofrimento da mulher. Mesmo com todos os estudos realizados na ?rea e com os avan?os em termos de igualdade entre os g?neros e desconstru??o de paradigmas, a maternidade ainda ? vista como uma obrigatoriedade. Essa press?o social sobre as mulheres est? para al?m de toda a idealiza??o introduzida culturalmente sobre a maternidade, podendo ser identificada como um s?mbolo do controle social sobre o corpo e as a??es femininas, o que representa uma forma expressiva de opress?o de g?nero.