FILHO, Deneval Siqueira De Azevedo. . Anais ABRALIC Internacional... Campina Grande: Realize Editora, 2013. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/4245>. Acesso em: 24/11/2024 21:13
Para refletir sobre os limites da linguagem na obra Ó, de Nuno Ramos, e repensar o papel da linguagem e da materialidade na literatura desse autor, suas relações interculturais, multiartísticas e transtextuais, recorro a três conceitos para me embasar teoricamente: primeiro, o conceito de tatuagem (também referida como tattoo na sua forma em inglês ou dermopigmentação ("dermo" = pele / "pigmentação" ato de pigmentar, ou colorir), que é uma forma de linguagem arcaica e não anacrônica. É uma das formas de modificação do corpo mais conhecidas e cultuadas do mundo. Do corpo humano, obviamente e por que não do corpo linguístico? O traço do tecido que se diz, que se fala, que se pictoriza, que falseia, que simulacraliza. Em segundo lugar, tratarei de sustentar meus argumentos, esboçando um conceito de máscara mortuária, ou máscaras mortuárias, as personas que refazem o horror da múmia diante do desmascaramento exterior, da impossibilidade de a linguagem se mostrar, a não ser não-subjetivamente em Ó, usando Michel Foucault e seu conceito de “O Pensamento Exterior.” Em Nuno Ramos, a linguagem, sua preservação, quase que aspecto de sustentabilidade e imortalidade mesmo, são denunciadas pelo jogo corpo, linguagem, morte. E, por último, tecerei algumas considerações sobre a “Poética da Negatividade”, espécie de redução que faz Ricardo Piglia a uma das vertentes do romance contemporâneo na América Latina no texto de Ramos. Sob esses aspectos, Ó, de Numo Ramos (2010), um dos livros mais instigantes desse nosso tempo, principalmente, porque enfrenta tragicamente a questão da decepção dos mitos e, especialmente, a lógica da falência que instaura a linguagem. Ó presta-se, com efeito, entre as produções contemporâneas no Brasil, ao exercício da crítica literária como diálogo e reflexão ético-política sobre o espaço ocupado hoje pela literatura.