A presente comunicação tem como objetivo discutir a possibilidade de avaliações minimamente objetivas de traduções poéticas. Segundo Britto (2006b, 2012), é possível avaliarmos traduções poéticas com mínima objetividade, o que nos permitiria fugir de argumentos que apresentam impressões extremamente subjetivas e conceitos vagos, tais como “a tradução não captou o espírito do original” ou então” a tradução fluiu bem”. A partir dessa visão, Britto desenvolve uma metodologia para avaliações minimamente objetivas de traduções poéticas. Tal metodologia encontra-se em Britto (2002, 2004, 2006a, 2006b, 2006c, 2008a, 2008b), e ela visa identificar as características poeticamente significativas do poema original; atribuir uma prioridade a cada característica, dependendo da maior ou menor contribuição por ela dada ao efeito estético total do poema; e verificar, nas traduções, se foram recriadas as características tidas como as mais significativas das que podem efetivamente ser recriadas — ou seja, verificar se foram encontradas correspondências para elas. Essa metodologia é permeada pela questão da fidelidade, que está diretamente ligada à correspondência e à perda: “quanto maior a correspondência entre um elemento do original e sua contraparte na tradução, menor terá sido a perda” (Britto, 2002, p. 65) e, assim, mais fiel será a tradução. A fim de demonstrar esse tipo de avaliação, por meio da metodologia de Britto, analiso a primeira estrofe do poema “To a skylark”, de Percy Bysshe Shelley, e sua tradução feita por Fernando Pessoa. Ambas as estrofes foram retiradas de poemas contidos na obra Fernando Pessoa: poeta-tradutor de poetas (1999), de Arnaldo Saraiva. Para avaliar essa tradução pessoana, verifico se os aspectos mais relevantes presentes nos níveis métrico, rimático, rítmico e semântico da estrofe do original foram recriados na tradução. Para essa avaliação, utilizo também a terminologia de Abrams et al. (1974), Fraser (1977), Hollander (1989) e Fussell (1979) para tecer comentários acerca da estrofe do original; e de Chociay (1974), Mattoso (2010) e Proença (1955) para tecer comentários acerca da tradução. A partir dessa avaliação minimamente objetiva, pudemos observar que a tradução pessoana em questão se mantém fiel aos aspectos mais relevantes da estrofe de Shelley e, por isso, podemos considerá-la uma boa tradução. Com a aplicação da metodologia de Britto, é possível avaliar traduções poéticas com algum grau de objetividade.