VELLOZO, Julio Cesar De Oliveira. Oliveira lima leitor de lima barreto. Anais ABRALIC Internacional... Campina Grande: Realize Editora, 2013. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/4384>. Acesso em: 24/11/2024 21:55
Oliveira Lima foi um dos intelectuais mais reconhecidos de seu tempo. Membro da primeira geração da Academia Brasileira de Letras, amigo muito próximo de Machado de Assis e José Veríssimo, tinha, no campo intelectual, grande força e relativo poder. Ao contrário da maioria de seus contemporâneos Oliveira Lima sofreu enorme impacto da obra de Lima Barreto, chegando a reconhecer no autor de Clara dos Anjos um dos maiores talentos do Brasil. Sua visão sobre Triste Fim de Policarpo Quaresma, por exemplo, é bastante sintomática desta percepção, já que o autor considera o livro um dos grandes romances escritos em língua portuguesa. Nossa visão é a de que Oliveira Lima e Lima Barreto, tão diferentes em sua projeção no campo e origem social, compartilhavam uma rejeição à modernização que o país vivia no início do século XX. Esta rejeição se manifestava em Lima Barreto em uma chave "popular", com o autor protestando contra os desmandos da elite contra os pobres, e em Oliveira Lima em uma chave aristocrática, com o pernambucano sentindo que um velho mundo de tradições se perdia. Entretanto, esta diferença de ponto de vista não impediu que Oliveira Lima desenvolvesse uma forte empatia em direção relação a Barreto e sua obra. Esta admiração foi suficiente para que o autor pernambucano, de modo praticamente solitário, sustentasse uma defesa enfática e radical dos méritos literários do autor carioca. A relação entre os dois nos parece bastante interessante para identificarmos coincidências e afinidades entre duas reações contrárias à modernização, uma de cariz popular, como a de Barreto, outra de cariz aristocrático, como a de Lima. O mundo que ia se perdendo com a modernização envolvia uma série de atores sociais que viviam em uma trama de relações complexas. Era inevitável que, de algum modo, se estabelecessem liames entre eles na hora em que um determinado mundo ia se desfazendo. Nossa comunicação visará abordar a forma como Oliveira Lima enxergou Lima Barreto e sua obra, especialmente o romance Triste Fim de Policarpo Quaresma. Também abordaremos parte da correspondência entre os dois autores, onde ficará claro que a visão de Barreto sobre Lima não era das mais simpáticas, o que deixa ainda mais interessante a admiração do historiador pernambucano pelo romancista carioca.Longe de estar preocupado com as agruras do povo carioca, vítima da modernização da Belle Epoque, Oliveira Lima sentiu na obra de Lima Barreto a mesma vertigem que lhe impactava diante da artificial reinvenção do passado.