MELO, Marina Silveira De. Do crime em literatura: escrita e espetáculo. Anais ABRALIC Internacional... Campina Grande: Realize Editora, 2013. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/4476>. Acesso em: 24/11/2024 19:53
Embora haja, atualmente, uma vulgarização e normalização do crime resultantes da exploração midiática, não é possível afirmar que esta banalização o retirou da esfera do proibido. No entanto, em se tratando do objeto literário, podemos ver o crime sob outra ótica. Neste âmbito, propomos pensar no crime sob o ângulo não só moral, mas também estético, tendo como suporte a literatura de investigação criminal. Julgar o ato criminal sob um ponto de vista moral implica, de modo geral, na busca de um culpado ou na espera de uma confissão. Em O caso Morel (Rubem Fonseca) e em Trou de Mémoire (Hubert Aquin), o crime aparece primeiramente como elemento que impulsiona o indivíduo à escrita, porque a confissão urge. Pode-se falar, neste caso, de uma literatura que surge do crime. Por outro lado, escrever significa, para o suposto criminoso, aproximar-se de seu ato de crueldade. A escrita torna-se, ao contrário, elemento inibido pelo crime e escrever é um mal, pois pode recriar, reproduzir o fato. Lepaludier (2002) é elucidativo neste aspecto ao considerar a estrutura da investigação policial como figura da escrita e da leitura, pois ambas repousam sobre indícios. Sendo a escrita um elemento artístico, estético, estilístico, podemos pensar na seguinte hipótese para a literatura de investigação criminal: se, por um lado, os assassinatos são vistos de forma moral, motivo da dificuldade em confessá-los, por outro, o são também esteticamente, o que justificaria o receio do escritor-artista em redigi-los. Se o assassinato puder realmente ser considerado como belas artes, como afirma De Quincey (1995), o crime torna-se obra artística e passa a compor o conjunto de traços do criminoso-artista. À guisa de exemplo, em Estrela distante (Roberto Bolaño), a morte vira espetáculo como os corpos nas morgues do século XIX em Paris. A partir do que foi exposto, propomo-nos a pensar no crime e sua relação com a escrita e no crime como uma das belas artes. Para ilustrar a discussão, serão abordados exemplos em Rubem Fonseca, Roberto Bolaño e Hubert Aquin. Palavras-chave: investigação criminal, escrita, arte.