IDEAIS CAVALEIRESCOS EM A ILUSTRE CASA DE RAMIRESSayuri Grigório Matsuoka Resumo:A temática medieval sempre encontra formas de expressão nas manifestações literárias de todas as épocas. Um aspecto a partir do qual podemos ressaltar a capacidade de atualização desses temas é a forma como Eça de Queiroz, em A ilustre Casa de Ramires, explora os sentimentos de Gonçalo Ramires, no que concerne ao seu confronto com o passado e com a fama bravia de seus inúmeros avós cavaleiros. Gonçalo não se equipara em hombridade a esses antepassados, sua constituição moral não corresponde ao apanhado de regras e de convenções cavaleirescas que, sobretudo, na Idade Média, circundava o complexo: lealdade honra e religiosidade. O problema desse herói reside justamente no seu sentimento de fracasso ao tentar resgatar um caráter perdido. Voltando-se para esse sentimento nostálgico de Gonçalo Ramires em relação aos valores extintos com as insígnias medievais de sua família, este trabalho, amparado, sobretudo, em autores como Jacques Le Goff e Hilário Franco Júnior, sobre medievalidade, investiga os diálogos possíveis entre os ideais cavaleirescos divulgados nesse período e a literatura produzida no século XIX. Observou-se, a partir dessa análise, uma profunda percepção queiroziana das inúmeras formas de entrelaçamento entre os valores morais dessas duas épocas distintas, manifestada, principalmente nas estratégias narrativas do romance que, atribuindo a Gonçalo a escrita da trajetória de sua família secular, possibilita um passeio deste pela história de sua própria compleição ética. Esse processo é fundamental para o reconhecimento de sua individualidade e, consequentemente, da sua distinção em relação aos avós. As reflexões resultantes dessa empresa mostram uma ironia sutil, permeada por traços de lirismo moderno, que denotam uma enorme transformação na postura estética de Eça mediante a observação da mudança dos comportamentos morais ao longo do tempo.Palavras-chave: A Ilustre Casa de Ramires, Idade Média, século XIX.