LIMA, Felipe Tavares. Fungos alimentícios do semiárido brasileiro. Anais CONADIS... Campina Grande: Realize Editora, 2018. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/50693>. Acesso em: 25/11/2024 00:02
Alguns cogumelos possuem teores de proteína superiores a 40% do seu volume seco, além de conterem fibras alimentares, minerais, vitaminas, metabólitos medicinais e baixo teor de lipídeos. No Brasil, no entanto, o consumo e produção destes é pouco difundido e abaixo da média internacional. No semiárido, onde há grande carência econômica e nutricional, a introdução de fungos na dieta se mostra especialmente estimulável. Um desafio ao cultivo nesse ambiente é a necessidade de elevado investimento em equipamentos, pois as espécies mais comercializadas, provenientes da Ásia e da Europa, demandam baixas temperaturas e elevada umidade. Espécies e variedades nativas, que são evolutivamente aclimatadas, teriam potencial para reduzir esses custos. Devido ao comportamento cosmopolita observado em muitos fungos, se torna possível, apesar da falta de informação formal adquirida a partir das populações tradicionais brasileiras, aferir sobre nativos não-endêmicos através de conhecimento provindo de populações consumidoras de outras regiões. Este trabalho objetivou listar os fungos comestíveis que ocorrem naturalmente no semiárido brasileiro evidenciando o potencial da região para posteriores estudos em cultivo e manejo do recurso. Inicialmente diversas publicações foram consultadas, incluindo-se livros, artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado, e uma lista com fungos apontados como presentes na alimentação de diversas populações no planeta foi elaborada. Foi então verificada a ocorrência no semiárido do Brasil das espécies listadas, através de buscas na plataforma INCT Herbário Virtual da Flora e dos Fungos, que reúne o acervo de 203 coleções de fungos, plantas e algas em território nacional, com informação de onde foram coletados. As nomenclaturas citadas foram readequadas às vigentes de acordo com o banco de dados Index Fungorum. Uma lista dos fungos comestíveis que ocorrem no semiárido brasileiro, suas áreas de ocorrência, grupo taxonômico e número de espécimes preservados em herbários brasileiros foi criada. Por fim, foram registradas informações acerca da intensidade e forma de consumo, além da presença de relatos sobre toxicidade das espécies em trabalhos publicados. Ao final encontrou-se um total de 43 espécies comestíveis, das quais 18 pertencem à ordem Agaricales, 15 à Polyporales, três à Auriculariales, duas à Geasterales, duas à Boletales, uma à Phallales e uma à Hymenochaetales. Destas, uma apresentou relatos de toxicidade em trabalho publicado. O número total de espécies encontradas supera em 14, tendo apenas oito em comum, a lista brasileira da publicação mais acessada sobre o tema no mundo. Supera ainda, em número, a lista nacional de outros 75 dos 84 países citados na mesma publicação. A discrepância entre os números publicados anteriormente e os encontrados no presente trabalho evidenciam a falta de conhecimento sobre a diversidade de fungos alimentícios no semiárido brasileiro. O elevado número total de espécies encontradas, em grupos taxonômicos distintos, revela a elevada diversidade e aptidão da região para tornar-se produtora do recurso em questão após estudos em cultivo e manejo, contribuindo para a busca da soberania alimentar e geração de renda da população residente.