SILVA, Rafaella De Sousa. Lendo o semiárido a partir de experiências escolares. Anais CONADIS... Campina Grande: Realize Editora, 2018. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/50735>. Acesso em: 25/11/2024 00:44
A proposta desse texto é dar condição de existência a um relato de experiências. Para tanto, farei uma curta apresentação das intenções que me levaram a cursar a disciplina Etnografia Aplicada a Pesquisa Educacional na Universidade de São Paulo, como requisito de obtenção de créditos para o Doutorado em História Social, e nesse percurso, contarei um pouco da cientista social que já se interessava pelo cenário da escola, e a que venho me tornando após o contato com as literaturas, discussões, e propostas construídas durante esse curso. Com isso, trago como sugestão, que é possível olhar diferente a sala de aula da escola pública no semiárido, quando se vive uma experiência qualitativa de entrada em campo em uma escola pública paulista, que carrega consigo uma constituição cultural que comunga com a megalópole da qual faz parte, mas me diz em muitos sentidos que é possível falar de escolas e dizer instituições diferentes, mas é também sugestivo dizer de diferentes formas uma ideia dela mesma, algo que conta, fala e constrói a ideia de escola, mesmo nas suas muitas faces. Para tanto, a problemática dessa escrita é analisar as possibilidades que surgem de olhar a escola e seus sujeitos a partir de novos sentidos, provocados por um momento que me fez despir-se de mim enquanto professora, e passar a atuar como pesquisadora em uma escola pública da cidade de São Paulo. Esse exercício de viver esse outro cenário, me provocou a pensar a escola interiorana da cidade de Cubati-Paraíba, na qual sou professora de História há quinze anos. Ou seja, a partir do exercício de campo que desenvolvi na Escola Estadual de Ensino Médio Professor Zezuíno Clemente (nome fictício). Uma escola com cerca de 1282 alunos e 14 salas de aula, fora sala da direção, dos professores, de secretaria, laboratório de informática, quadra, cozinha, sala de leitura, biblioteca, refeitório, dois pátios descobertos e dois banheiros que ficam no pátio do refeitório, espaços que ganharam alguns sentidos a partir das práticas e usos sociais que consegui observar durante um pouco mais de dois meses de permanência na escola, em visitas quase diárias as quais intercalava com as aulas e atividades acadêmicas. No total foram 28 visitas a escola e o que considero uma vigésima nona, foi o dia que fui convidada a passar uma tarde na casa de duas alunas. A proposta que lancei mão e apresentei na escola, foi construída no primeiro dia de visita, por ter chegado no horário aproximado ao intervalo e observado alunos e alunas conversando e caminhando nos corredores. Ao perceber esse momento como uma possibilidade de diálogo, propus ir à escola no turno da manhã, no horário do intervalo das aulas (9:30 às 9:50 horas), observar como aqueles jovens praticam esse momento, e ao surgir oportunidade, ter conversas informais sobre seus anseios, as relações que estabelecem com a escola, o que pensam da mesma, e como se dão suas relações de sociabilidades. Era a oportunidade que sempre desejei, de ler a escola a partir dos alunos e alunas, sendo essa instituição nova para mim, assim como seus transeuntes. Desde já, é possível colocar que essa experiência me modificou enquanto professora, pesquisadora e pessoa, me fez recordar que ao ir em uma escola, ao construir uma etnografia, não deve se cultivar uma interferência no lugar por parte do pesquisador, mas uma interferência no pesquisador, que estando em contato com esse mundo outro, conhecendo espaços, pessoas e práticas que em grande medida são estranhas a ele, por mais próximas que pareçam, modifica-se por não sair de lá o mesmo.