Este trabalho tem como objetivo levantar reflexões teóricas a respeito das noções de normas linguísticas trabalhadas em sala de aula, especialmente a partir dos pressupostos básicos que formam o preconceito linguístico na sociedade. Para isso, traz-se à baila a ideia de Língua Paterna, proposta pelo linguista francês Bernard Cerquiglini e desenvolvida brevemente em artigo do linguista brasileiro Marcos Bagno, porém, sem maiores aprofundamentos. Coloca-se em discussão a dicotomia perceptível entre língua materna e língua paterna, no seio de uma intensa polarização existente nas relações entre linguagem e sociedade, no nível do indivíduo e das políticas linguísticas que atingem diretamente a escola, colimando agudamente a prática diária do professor de língua portuguesa. Apesar do discurso ferrenho contra o ensino da norma institucionalizada, colocando-o como negativo e opressor, defende-se a necessidade de desconstrução dessa perspectiva nas aulas de língua portuguesa, e a adoção de um ponto de vista mais “inclusivo” em relação à aprendizagem e uso dessa modalidade pelo professor. Advoga-se uma possibilidade teórica-metodológica diferenciada, na esteira da metáfora de uma “família”, cujos membros, juntos, colaboram entre si em prol de objetivos comuns. Conclui-se que o docente deve evitar maniqueísmos ideológicos sobre a linguagem em sua prática, buscando habilitar-se para lidar com as duas formas de língua – materna e paterna – no esforço de conduzir o estudante a práticas sociais de uso da linguagem nas quais ele consiga conciliar seus conhecimentos prévios com aquilo que se lhe oferece na sala de aula.