Este trabalho objetiva realizar uma análise do poema “Romeu e eu”, do escritor brasileiro contemporâneo Glauco Mattoso, presente na antologia Poesia Gay (2017), a partir dos pressupostos teóricos da contrassexualidade e da transmodernidade. A contrassexualidade, conceituada por Paul B. Preciado (2014; 2019) propõe uma revisão textual da escritura-corpo, com o intuito de estabelecer outras compreensões acerca dos signos estruturantes e reorganizá-los subvertendo a lógica dominante, viabilizando aos acidentes sistemáticos o lugar de termo constituidor do discurso mediante o lugar da enunciação e de práticas que reinscrevem neles a arquitetura política. A transmodernidade, por sua vez, é uma formulação teórica do filósofo Enrique Dussel (2016), que apresenta um rompimento da perspectiva eurocêntrica, colocando em evidência a periferia como centro-mundo, isto é, lança um novo olhar sobre a alteridade e a exterioridade que está além da modernidade euro-americana imposta. Nesse sentido, o poema de Mattoso subverte a lógica heteronormativa dominante ao denotar um eu-lírico que transgride as imposições de figuras autoritárias, por meio de elipses que encobrem um desejo homoerótico. Logo, inscreve-se na estrutura contrassexual e, consequentemente, transmoderna.