VER O MUNDO COM BAIXA VISÃO E SER CEGO NO MUNDO DOS QUE VÊEM Ítalo Rafael Tavares da Silva/ítalo.argo@gmail.com/UFPA Maria de Fátima Vilhena da Silva/fatimavilhenaufpa@gmail.com/UFPA Eixo Temático: Educação, diversidade e inclusão social. Resumo As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, determinam que: "Os sistemas de ensino devem matricular todos os estudantes, cabendo às escolas organizarem-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos" (MEC/SEESP, 2001). Logo, todas as pessoas tem o direito à educação, e o Estatuto da Inclusão complementa que as escolas devem não somente matricular essas pessoas, mas acolher e respeitar as suas deficiências, sejam intelectuais, físicas ou psicológicas. No entanto, no sistema escolar nos deparamos com situações muitas vezes absurdas, por exemplo, negar a matrícula de pessoas com deficiência visual, ou professores que não sabem o que fazer com seus alunos especiais na sua sala de aula. Diante dessas justificativas propomos pesquisar: que dificuldades podem ser encontradas na sala de aula por uma aluna de baixa visão diante dos aspectos pedagógicos na sala de aula, em escola pública? Os objetivos da investigação são caracterizar o relacionamento da aluna com seus colegas e com a professora; avaliar o envolvimento, os interesses da aluna com as atividades escolares propostas e se as atividades estavam apropriadas para quem tem baixa visão. A pesquisa é um estudo de caso (CLEMENTE JUNIOR, 2012) em que foi pesquisado uma estudante do 5º ano do ensino fundamental de uma escola pública de Belém-Pará com laudo de baixa visão. A coleta de dados ocorreu por meio de observação? sistemática, conversa com a aluna e acompanhamento em que permitiu obter informações necessárias à pesquisa, independente da colaboração de grupos ou de pessoas. Os resultados mostraram que muitos dos aspectos pedagógicos exercidos pela professora na sala de aula estiveram de acordo com as orientações curriculares e a BNCC (BRASIL,2017). A título de exemplo, citamos a professora colocando a escrita no quadro com letras de tamanho maior que o usual a fim de possibilitar a participação da aluna. Havia exercícios diferenciados: a professora fazia cópias de tamanhos ampliados para que a aluna pudesse resolvê-los. A aluna sentava-se bem perto da professora para aproveitar melhor a aula. A literatura pertinente à inclusão de pessoas com deficiência visual na escola já dispõe de algumas propostas pedagógicas facilitadoras que podem ser utilizadas pelo professor se se interessar e se sensibilizar para a questão (ROMAGNOLLI, s/d). A baixa visão é um comprometimento que tem várias consequências. Quando o escolar tem baixa visão e não existem recursos materiais e humanos apropriados pode ficar desestimulado e fadado ao fracasso escolar. Todavia,?? pensamos que a referida deficiência não significa a pessoa ser incapaz de aprender. É necessário auxiliar a pessoa a utilizar os resquícios da visão para executar determinadas tarefas, desde que haja os ajustes conforme sua especificidade ou objetivo da tarefa escolar, podendo ser um grande facilitador da aprendizagem escolar. Deste modo o aluno com essa deficiência deve ser tratado "dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades" (BRASIL, 1994) respeitando seus direitos e sua dignidade, conforme determina o artigo 18 das Diretrizes curriculares Nacionais (BRASIL, 2013). É importante destacar que às vezes essa deficiência não é percebida na sala de aula e também há poucos estudos na área da educação sobre baixa visão, ao contrário da vasta literatura quando o assunto é cegueira por se tratar de uma deficiência que é logo identificada fisicamente. Por esses fatos, consideramos que o tema em questão merece mais reflexões por parte dos educadores principalmente na educação básica, mais especificamente no ensino fundamental, a fim de promover o desenvolvimento das pessoas com baixa visão no ambiente escolar desde cedo e os professores se preocuparem em utilizar metodologias adequadas e melhor acolhimento da pessoa. Entre os outros resultados, também pudemos observar e refletir sobre as metodologias pedagógicas da professora para envolver a aluna com baixa visão quando ela propunha trabalhos em equipes e os colegas da aluna mostravam-se sensíveis ao problema e buscavam ajuda-la naquilo que era mais difícil tal como encaixar ou colar algo. Os alunos colegas colocavam nas mãos da estudante pesquisada o material escolar para que pudesse sentir melhor os detalhes, assim também faziam-na participar de tudo que fosse proposto pela professora. Já nas aulas de educação física percebemos um distanciamento da mesma turma da colega de baixa visão por estarem mais preocupados em correr e fazer movimentos mais rápidos. Assim a aluna ficava para trás ou nem participava porque a atividade era uma só, com únicas regras que dificultavam acompanhar as atividades desta disciplina feita por outro professor. A título de conclusão, consideramos que o desenvolvimento desta pesquisa nos permitiu refletir que o processo de inclusão vai para além de observar as dificuldades encontradas na sala de aula tanto pela professora como para a aluna e os colegas desta. O sucesso pedagógico de inclusão de quem tem baixa visão exige respeito à dignidade da pessoa com deficiência, acolhimento e parceria dos profissionais que compõem a comunidade escolar unidos pelos mesmos objetivos em minimizar as barreiras que implicam na aprendizagem e como preconiza a Política de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva (BRASIL, 2008). As dificuldades encontradas na sala de aula pela aluna ocorreram em alguns momentos das aulas quando não haviam materiais pedagógicos apropriados, adaptados ou disponíveis na escola. A nosso ver, a escola pública ainda não tem recursos suficientes para casos semelhantes o que se transforma numa barreira pedagógica. Palavras Chave: Baixa visão. Educação inclusiva. Formação docente. Diferença. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base nacional comum curricular. Brasília, DF, 2017. Disponível em: . Acesso em: abril/2018. ______. Declaração Mundial de Educação para Todos e Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem. Conferência Mundial Sobre Educação para Necessidades Especiais. 1994, Salamanca (Espanha). Genebra: CEDES, Campinas, n 71, 2000. ______. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica : diversidade e inclusão / Organizado por Clélia Brandão Alvarenga Craveiro e Simone Medeiros. - Brasília : Conselho Nacional de Educação : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, 2013. 480 p. [on line] Disponivel no site: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=17212-diretrizes-curriculares-nacionais-para-educacao-basica-diversidade-e-inclusao-2013&category_slug=marco-2015-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 14 de julho de 2018. CLEMENTE JÚNIOR, Sergio dos Santos. Estudo de Caso x Casos para Estudo: Esclarecimentos a cerca de suas características e utilização. Anais do VII Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul. Turismo e paisagem: relação complexa. Universidade Caxias do Sul, 16 e 17 de nov. 2012. ROMAGNOLLI, Gloria Suely Eastwood. Inclusão do aluno com baixa visão na rede pública de ensino: procedimentos dos professores. Disponível no Site: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1109-4.pdf