O trabalho e o tempo para estudo: a subjetividade no discurso de alunos evadidos de uma licenciatura Luciano Ferreira/Unespar Rui Marcos de O. Barros/UEM Talita S. dos Santos/Unespar Eixo Temático: (2. Políticas Públicas e identidade docente - com ênfase em referenciais políticos e epistemológicos sobre carreira e valorização dos professores.) Resumo Pretendemos ao utilizar-se da teoria de Michel Foucault, fazer a relação da evasão do ex-aluno do curso de licenciatura em matemática da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e seu "pouco tempo de dedicação" fora da sala de aula devido a ser um aluno trabalhador. Para estabelecer esta relação fizemos um levantamento dos números oficiais da UEM acerca da evasão no curso de Matemática entre os anos de 2003 a 2013. Pesquisamos um recorte no arquivo que trata o objeto evasão, um levantamento de artigos, dissertações e teses correlatas. Elaboramos e aplicamos uma entrevista com amostra estratificada dos acadêmicos evadidos. Assim fizemos uso dos enunciados dos próprios ex-alunos para nossas análises. A materialidade dos enunciados nas entrevistas se associou ao campo das pesquisas e os discursos que tratam o referencial evasão, para marcamos a posição do sujeito que passou pelo curso de matemática e não se formou. O objetivo, além da verificação das representações que os evadidos têm da sua evasão e seu trabalho, é incitar uma discussão crítica acerca das representações do maior envolvido com a evasão, uma vez que observamos que as representações mostram sua subjetividade. Pretende-se com essa pesquisa descrever quais são os sujeitos evadidos e que discurso os insere. Com este estudo pretendemos ainda dar voz aos sujeitos excluídos. Podemos adiantar que "sujeito evadido" se constitui em seu próprio discurso. Ele é um agente passivo, influenciado, pelas subjetividades e pelas objetividades do curso de licenciatura e matemática, indivíduo resistente ao poder, a ele exercido, capaz de concluir outros cursos superiores ou mesmo o curso que o evadiu em outra instituição a modalidade, ao resistir ao poder a ele exercido torna se um sujeito do discurso. Para atingir tal intento abordaremos um sujeito, que é o aluno evadido do curso de Matemática da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Veremos sua relação com o curso que iniciou e não concluiu. Mostraremos a íntima relação entre a necessidade de trabalhar e sua evasão, por meio de enunciados dos próprios alunos. Para isso, utilizamos a teoria da análise de discurso, fundamentada em Foucault (1985, 1995, 2001, 2004, 2008, 2013) e seus comentadores. O objeto de pesquisa deste artigo é a evasão. Existem vários conceitos para evasão e distintos modelos teóricos e metodológicos para o estudo deste fenômeno. Porém, nesta pesquisa, ela será tratada como objeto de estudo. Consideremos, portanto, sua definição mais geral, que é quando o aluno inicia e não conclui seu curso. Só atingimos nosso objetivo quando compreender a constituição do sujeito evadido do curso de matemática da Universidade Estadual de Maringá e a oscilação da subjetividade e da objetividade desses alunos a partir das práticas discursivas acerca de sua evasão e sua necessidade de trabalhar representadas nos seus enunciados. Ou seja, ao descrever a história que não é contada pelos documentos, mas sim, contada pelos acadêmicos evadidos do curso de matemática da UEM. As questões respondidas nesta pesquisa serão: Qual a relação do "sujeito evadido" com curso de matemática da Universidade Estadual de Maringá? Como ele, "sujeito evadido", enxerga a relação da sua evasão com seu trabalho? Em que prática discursiva o "sujeito evadido" se insere? Nesta pesquisa utilizamos parte do pensamento do filósofo Michel Foucault (1926 a 1984), pois concordamos com Fischer (2001) e acreditamos que tal teoria possa contribuir para pesquisas em educação, que é o caso desta investigação. Ao discutir o tema evasão do curso de matemática da UEM pretendemos colaborar com a educação e especial com a Educação Matemática. Segundo Fischer (2001, p. 197) existe uma "[...] contribuição desse referencial foucaultiano, tanto teórico como metodológico, para as pesquisas em educação, nas quais que se pretende analisar discursos". Sendo assim, esse referencial sustentará esta pesquisa nos dois aspectos: teórico, ao usar conceitos da teoria de Foucault para interpretação dos dados; metodológico, para buscar regularidades e dispersões nos enunciados proferidos em uma escavação arqueológica da problemática da evasão do curso de matemática da UEM. O "sujeito evadido" do curso de matemática enxerga sua evasão por duas perspectivas: ao falar de sua a falta de tempo para se dedicar aos estudos das disciplinas do curso, devido ao seu trabalho, e ser subjetivado por um discurso que é impossível concluir o curso trabalhando. Ou seja, ele se constitui como sujeito do seu próprio discurso. Conforme Fernandes (2011, p. 2) "Considerando que os modos de subjetivação produzem sujeitos singulares, devem?se procurar mostrar, por meio da análise dos discursos, os procedimentos mobilizados para a produção da subjetividade e, consequentemente, dos sujeitos". Foucault (2008, p. 162), diz que "A descrição arqueológica que se dirige às práticas discursivas [...]". Sendo assim, em nossa pesquisa arqueológica percebemos que "sujeito evadido" do curso de matemática, insere-se em uma prática discursiva na qual aluno trabalhador não consegue concluir o curso de matemática, no tempo determinado pela instituição. Haja vista que esse enunciado é regular em diversos trabalhos e campos, pois vem se repetindo ao longo do tempo. Mesmo fora do curso de matemática esses ex-alunos destacam seu sucesso em outro curso ou em outra área profissional. O evadido que diz que desistiu é aquele que não avançou muito profissionalmente, por isso assume mais fortemente a visão negativa que instituição dissemina sobre ele. Ao relatar a representações que os evadidos têm do curso de matemática da UEM, tivemos a intenção de incitar uma discussão crítica acerca das representações por parte de todo maior envolvido com a evasão (sujeito evadido), uma vez que observamos que as representações não somente integram e constituem a subjetividade, como podem criar outro de si mesmo. Palavras-chave: Licenciatura, evasão, Foucault, Trabalho. Referências FERNANDES, C. A. Discurso e produção de subjetividade em Michel Foucault. 2011. Disponível em: . Ferreira, L. "Práticas discursivas e subjetivação do sujeito evadido do curso de matemática da Universidade Estadual de Maringá" 2016. 154f Tese (doutorado)- Universidade Estadual de Maringá, Centro de Ciências Exatas, Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência e a Matemática, 2016. FISCHER, R. M. B. Foucault e a Análise do Discurso em Educação. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 114, p. 197-223, nov.2001. FOUCAULT, M. A ordem do discurso. Trad. Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Loyola, 1996. FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.