O texto discute sobre os impactos e desafios que o trabalho do cuidado pode ter no acesso à escolarização das mulheres trabalhadoras e estudantes de uma turma da Educação de Jovens e Adultos (EJA), a partir de relatos trazidos durante o primeiro semestre de 2023. Parte-se da compreensão de Federici sobre a divisão sexual do trabalho, em que o trabalho do cuidado, realizado predominantemente pelas mulheres, ainda que fundamental para a manutenção da vida, é historicamente invisibilizado e desvalorizado. Também discute-se sobre a história da educação feminina no Brasil, em que durante muito tempo, o processo de ensino formava as mulheres com o objetivo de torná-las boas mães e esposas. Além disso, a partir das discussões de Ferraro, apresenta-se como se deu a inversão histórica que ocorreu quanto à escolarização de mulheres, que já foram excluídas das escolas e hoje são maioria no ensino superior e em níveis de alfabetização. Assim como em nossa turma, as mulheres são maioria nas salas de EJA atualmente, e a partir de seus relatos, percebemos que são as responsáveis pela manutenção de suas casas. Essas responsabilidades impactaram a escolarização dessas mulheres, já que muitas saíram da escola para ajudar em casa, porque se tornaram mães ou pela necessidade de trabalhar, e ainda impactam, porque em muitos momentos, ao retornarem para a escola, precisam priorizar as exigências domésticas, do trabalho e da família. Mesmo com os desafios, a vontade e a determinação de aprender e seguir estudando permanece viva nas estudantes dessa turma de EJA.