No romance A Gloriosa Família: O tempo dos flamengos (1997), do escritor angolano Pepetela, é apresentada a saga do clã mestiço de Baltazar Van Dum, comerciante negreiro, em Luanda, nos anos 1641-1648, época de colonização holandesa, para organizar o tráfico de escravos para as lavouras de cana-de-açúcar do nordeste brasileiro. Nessa atmosfera calvinista, na qual os católicos podiam frequentar as missas somente na ilha de Luanda, os padres tinham de ter cuidados com a Inquisição que punia homossexuais, além de advinhadores, feiticeiros e bígamos. O objetivo do estudo é delinear a atitude imprudente de Padre Tavares que chegou na sanzala (residência) dos Van Dum, onde viviam escravos e forros, promovendo uma caça tempestuosa a ídolos dos nativos, enquanto que se aproximava de Hermenegildo, considerado pelo pai como efeminado, por causa de seus gestos e modos delicados. Em dois espaços distintos -um, ao ar livre, profano, às margens da lagoa do Kinaxixe e, outro, sagrado, no interior da Igreja de Nossa Senhora da Conceição-, em Luanda, se combatem dois homens diferentes, imersos em relações de poder e distintos modos de subjetivação: branco/maduro/religioso/homossexual e mestiço/jovem/hétero.