Ao longo de duas décadas de profissão, atuando predominantemente na formação de professores, tenho a oportunidade de dialogar com centenas de ‘alunos-professores’, alguns com larga vivência na educação básica, refletindo juntos sobre vários aspectos da nossa realidade. Como pessoa com deficiência, observo que a minha presença neste lugar de professora/formadora surpreende e provoca reflexões que vão além das discussões teóricas que fazemos em face da própria natureza dos conteúdos que ministro. Apesar dos últimos avanços, algumas estruturas capacitistas se mantém sólidas, reproduzindo o preconceito e perpetuando estigmas sobre as pessoas com deficiência, o que reforça as barreiras que dificultam o exercício de direitos humanos e sociais por estas pessoas. O presente artigo tem como objetivo relatar estas memórias com vistas a contribuir na construção de uma cultura anticapacitista na escola, a partir da formação de professores. Como objetivos específicos, buscamos: relatar situações em que fui a primeira pessoa a ocupar alguns espaços sociais; refletir sobre as conquistas efetivadas, apesar das barreiras impostas pela sociedade; e, apreciar criticamente a formação de professores, visando à construção de propostas educacionais que promovam uma cultura anticapacitista nas escolas. Recorro à memória como recurso metodológico (DURAN, 2012; SOARES, 1991), refletindo o passado com as lentes do presente, contribuindo, assim, para a reflexão de outros educadores. Quando escolho a autobiografia, me apoio sobretudo em Nóvoa (1992), propondo um trabalho de análise e de reflexão sobre momentos significativos, em que se entrelaçam percursos pessoais e profissionais, e, o individual e o coletivo. O resultados apontam a ausência de referências de pessoas com deficiência ocupando espaços sociais minimamente relevantes. Além disso, convoca os educadores em geral, à reflexão e à construção novas práticas educativas, com base no estabelecimento de conexões reais com pessoas com deficiência.