No ensaio Horror e sobrenatural em literatura, o escritor estadunidense H.P. Lovecraft assinalou que a emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo do desconhecido. Reside nessa constatação o ponto central que nos remete diretamente à ficção fantástica do terror, pois, em linhas gerais, essa categoria narrativa se caracteriza por provocar e estimular um sentimento inerente à própria existência humana: o medo. Historicamente, a essência da literatura do terror está associada ao surgimento do romance gótico Castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole.
A partir de sua publicação, o texto de Walpole deixou traços indeléveis na literatura posterior, já que inúmeras obras espelharam a influência da transgressão do real, fenômeno largamente cultivado pela produção literária dos séculos XVIII e XIX. Contemporaneamente, os temas cultivados no Pré-Romantismo europeu têm se traduzido em verdadeiros sucessos editoriais. Licantropia, vampiros, espectros sinistros, seres insólitos e macabros voltaram triunfalmente à cena e, remodelados por técnicas narrativas da modernidade, ocupam a primazia do mercado editorial voltado para crianças e jovens. À medida do crescente interesse dos leitores, as editoras brasileiras têm alimentado sistematicamente as prateleiras das livrarias com novas coleções e séries nacionais e estrangeiras – a exemplo do selo Fantástica, lançado em 2014 pela editora Rocco – voltadas especificamente para a literatura insólita e com público definido: jovens e os young adults (YA). Considerando essa evidente abertura promovida pela retomada de temas fantásticos, o objetivo deste trabalho é analisar a presença do terror na literatura juvenil brasileira. Como corpus de análise, selecionei a obra Sete ossos e uma maldição (Global, 2013), da escritora Rosa Amada Strausz. Duas vezes consagrada com o tradicional prêmio Jabuti (1991 e 2012), Strausz tem o mérito de acompanhar atentamente o gosto e os interesses do público infantil e juvenil. Nesse volume, constituído por dez contos, a autora utiliza como estratégia discursiva a união entre o mal e o ininteligível que provoca o medo. Esses elementos são inseparáveis e, quando violam o real cotidiano, conduzem habilmente o jovem leitor para o interior da trama narrativa. Em clima de suspense, elaborados com períodos curtos e incisivos, os contos descrevem um mundo regido pelo mal, onde não há saída para os protagonistas. Para o desenvolvimento do trabalho e análise do corpus literário, serão consideradas as contribuições teóricas de H.P. Lovecraft (2008), Jean Delumeau (2009), Remo Ceserani (2006), Roger Callois (1976), Zygmunt Bauman (2008), Maria da Glória Bordini (1987), dentre outros que possam ampliar a perspectiva proposta.