HOGEMANN, Edna Raquel et al.. Direito e poder nos demônios de dostoiévski. Anais JORNADA RDL... Campina Grande: Realize Editora, 2017. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/30212>. Acesso em: 24/11/2024 18:51
Identifica a presença do Direito no romance Os demônios de Dostoievski. Esclarece como o niilismo defendido, de modo exacerbado, por suas personagens mais relevantes comporta uma crítica às instituições jurídicas como modo de preservação das estruturas de poder prevalentes na Rússia tzarista. Demonstra em que medida as narrativas de Dostoiévski, um dos maiores romancistas das letras ocidentais, constituem não apenas matizes fundamentais do romance moderno, mas também a base para a reflexão mais verticalizada sobre o fenômeno político-jurídico, lançando luzes sobre o caldeirão ideológico-político em que se transformou a Rússia na segunda metade do século XIX. A partir da utilização do conceito de dialogismo, apurado por Baktin, em sua obra Estética e a teoria do romance(1965), os autores do presente ensaio pretendem lançar luzes sobre a complexidade dos romances dostoievskianos e a sua contribuição, não somente para a gênese da ficção moderna, como também para a identificação do pano de fundo sólido do mundo real, permanentemente afetado pelas tensões, contradições e disputas políticas, de tal maneira que o diálogo exterior permanece, de forma indissolúvel, ligado ao diálogo interior, microdiálogo, e que todos se encontram enredados na multiplicidade de vozes que atravessa o romance. Assim falando, assim falantes, as personagens são marcadas por um inacabamento intrínseco que traduz a tensão entre o eu e o outro e faz da narrativa a única figura da totalização. A leitura jurídico-política da obra Os demônios realizada pelos autores do presente ensaio encontrou uma abundância de questões metafísicas que apontam para a precariedade da existência humana. Aí onde os contemporâneos não viram senão um panfleto contra os revolucionários. O autor russo revela, na realidade, as potências obscuras da alma, o poder da subversão, ou de inversão de valores, desses “demônios” que ainda hoje se encontram soltos nas sociedades fragmentárias e complexas.