PEREIRA, André Luis Mitidieri. Biografemas homoculturais de eva perón. Anais ABRALIC Internacional... Campina Grande: Realize Editora, 2013. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/4174>. Acesso em: 24/11/2024 21:37
David William Foster (1999) ressalta, dentre as várias configurações assumidas pelo ícone de Eva Perón no imaginário social do Rio de la Plata, a sua identificação como figura de proa para a cena LGBTs no período pós-ditatorial. Entrelaçada a uma experiência coletiva, a mulher se desvela um “ícone da inscrição da Argentina no texto da modernidade periférica”, conforme lembra Susana Rosano (2005). A dicção homoerótica impressa na biografia da primeira dama, intitulada 'Evita fuera del balcón' (1981), e no livro memorialístico 'La cabeza contra el suelo' (1975), ambos produzidos pelo estilista de Evita, Paco Jamandreu, bem como nas representações biográficas, históricas e/ou literárias da líder peronista, elaboradas por Blás Matamoro, Juan José Sebreli, Manuel Puig, María Helena Walsh, Néstor Perlonghi, Osvaldo Lamborghini e Raúl Damonte Botana (Copi) durante os anos de 1960/1970, parece mesmo fascinar-se pelas ambivalências do fetiche que o nome de Eva evoca e pela face camp da atriz a se desempenhar nos palcos do poder, reafirmando uma “singular e específica relação entre política e homossexualidade”, segundo afirma Tomás Eloy Martínez em seu romance 'Santa Evita' (1995). Nesse âmbito, e com base em metodologia qualitativa fundamentada em pesquisa bibliográfica que privilegia as esferas biográfica e literária, buscamos estudar as “pequenas histórias” (Cf. ARENDT, 1993) viabilizadas sob a forma de biografemas (Cf. BARTHES, 1971) homoculturais na citada obra literária de Martínez e nas memórias de Jamandreu. Analisados como expressões diversificadas - de um lado, o sujeito produtor masculino desvestido de preconceitos; de outro lado, a subjetividade autoral homoafetiva -, esses textos permitem apresentar como resultado principal a função determinante de autores, personagens e seres históricos gays na elaboração e consolidação da imagem pública de Evita/Eva Duarte-Perón. Por fim, concluímos pela articulação entre os biografemas fornecidos pelo corpus em análise, a modernização estética platina e a instauração/difusão do mito evitista na homocultura.