O contexto familiar durante muito tempo contribuiu para o binarismo masculino e feminino, pois é justamente no ambiente da família que esses papeis são reafirmados e perpetuados. Nesse contexto, o ato de servir, atribuído à condição feminina, resgata um passado de opressão e imposições que, no decorrer do tempo, foi sendo abrandado através de algumas máximas que se corporificaram como verdades indiscutíveis, tais como a que coloca a mulher como “rainha do lar” e a que afirma que a maternidade é o próprio paraíso. Tem-se, dessa forma, o aprisionamento e o silenciamento do sujeito feminino na vida em família, privando-o da liberdade de escolha. Assim, o conto Clariceano Amor configura-se como uma escrita que questiona a condição feminina no ambiente familiar. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo primeiro analisar como a escritora contemporânea questiona o lugar do silêncio que se configura como fonte denunciadora do universo feminino, constantemente oprimido, e, em um segundo momento, analisaremos a construção da personagem diante do espaço que a ela é designado. Para tanto, embasamos a discussão em Louro (1997), Beauvoir (1980), Del Priore (2008,2006), Telles (2010) dentre outros.