Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha (1769-1811) representa o arcadismo luso-amazônico. Sua poesia, essencialmente encomiástica, com traço burocrático-colonial, revela dimensões do universo amazônico da segunda metade do século XVIII. Sendo um árcade tardio, com produção literária irregular, sua poética aponta para outras tendências, como no soneto à mameluca Maria Bárbara, em que rompe com a canônica dicção dos árcades mineiros ou, pelo menos, indica outro sentido para uma poesia árcade de origem luso-amazônica. Se, de um lado, os inconfidentes mineiros parecem reagir contra a política portuguesa no centro do Brasil; de outro, Aranha reforça o “gênio da nação” portuguesa, em detrimento de seu “gênio artístico”. Com efeito, realiza-se, por vezes, como um “antiárcade amazônico”. Algo que só se pode compreender com a retomada dos animadores da Arcádia Lusitana, como Correia Garção e Cândido Lusitano, bem como de outra tradição histórica, entre Teócrito e as Bucólicas de Virgílio, sem contar as incontornáveis cartilhas poéticas de Horácio e Boileau. Da simples encomiástica de Tenreiro Aranha, esquecida como possível contraponto dentro da historiografia e crítica literária brasileira para o estudo do Arcadismo, podem-se vislumbrar contradições maiores sobre o colonialismo luso na Amazônia, bem como sobre a poética colonialista em época de sobrelevação do trinônimo razão, natureza e verdade. Ao longo e ao cabo do debate, pretende-se pôr em revisão postulados basilares desse processo formativo de nossa literatura.