Durante um longo período da história, as manifestações literárias infantis eram impulsionadas por uma intenção unicamente didática, moralizante ou educadora, a partir da visão dos mais velhos sobre a criança, que ainda era vista como um adulto em miniatura. As ilustrações presentes nesse tipo de obra apenas reforçavam o que o texto verbal informava aos pequenos leitores. A partir do século XX, contudo, uma nova abordagem da literatura infantil permitiu que a mesma representasse o universo infantil, ilustrando seu imaginário através de textos visuais compostos por imagens que adquirem sentido apenas com a sua relação com o texto escrito. Atualmente, as obras ilustradas infanto-juvenis apresentam relação dinâmica e singular entre texto e imagem, conferindo aspectos diferenciais em sua composição e possibilitando a produção de sentidos e significados à leitura. Na Era Digital, em que a cultura visual encontra-se, mais do que nunca, presente e atuante, os livros ilustrados incorporam interações de ordem tecnológica, reconfigurando sua concepção e produção em um mercado cada vez mais digital. O caráter interativo da leitura contemporânea é seu traço definidor, pois quanto maior é o grau de interatividade mais profunda será a experiência de leitura imersiva para o leitor, conforme Santaella (2004). Lemos (2015), por sua vez, indica essa como sendo uma ‘leitura-navegação’. Abarcando as influências que a tecnologia tem exercido sobre as produções contemporâneas de livros ilustrados infanto-juvenis, o presente artigo propõe-se a investigar e refletir acerca desses fatores em três obras vencedoras do Prêmio Jabuti 2017, na categoria Infantil Digital, a saber: Kidsbook Itaú Criança, da Agência África, Quanto bumbum!, da Editora Caixote, e Nautilus, da startup Storymax. Através de revisão bibliográfica de caráter qualitativo, utilizando-se da observação-participante com o intuito de fundamentar de forma mais aprofundada as experiências proporcionadas pelas três obras digitais elencadas para análise, este estudo pretende apontar para as influências da Era Digital na produção e concepção de livros ilustrados infanto-juvenis, sugerindo perfis de leitores imersivos para a leitura no século XXI. Para tanto, buscamos suporte teórico através de autores como Linden (2011), Nikolajeva e Scott (2011), Salisbury e Styles (2013), Lalojo e Zilberman (2017), Pinto, Zagalo e Coquet (2013), dentre outros estudiosos da cibercultura e da literatura eletrônica, como Lemos (2015), Hayles (2009), Rajewsky (2012), Santaella (2010) e Primo (2011). Através de resultados e discussões de análises das obras elencadas, percebe-se que as diversas linguagens da atualidade nesta Era Digital refletem o cenário multifacetado e interativo, permeado de possibilidades, ao qual crianças e jovens do século XXI são expostos diariamente. Torna-se necessário, portanto, que educadores, pais e responsáveis acompanhem e estimulem o primeiro contato leitor das crianças, apresentando-lhes também as possibilidades literárias do digital, de forma supervisionada e construtiva.