Interfaces da Morte em O beijo da palavrinha, de Mia Couto
Patrícia Pinheiro Menegon
Há alguns anos a Literatura Africana de Língua Portuguesa tem despontado e ganhado destaque por meio de obras de escritores literários de enorme importância como Mia Couto. Entre outras temáticas desenvolvidas por ele, a infância tem se evidenciado com bastante relevância, seja pela presença de personagens infantis que carregam em si o anseio e expectativa de uma nação cuja a identidade está passando ainda por uma etapa de desenvolvimento, seja pelo fato da infância ser sobretudo, um momento privilegiado, acessado pela memória, que conecta valores e desejos indispensáveis no processo de socialização e concepção da pessoa. Pretende-se neste trabalho, mostrar a jornada experenciada pela personagem Maria Poeirinha no final da sua abreviada vida, bem como conceitos como a Morte e o Luto. Como as crianças manifestam suas concepções e as enquadram em suas vidas? Que rituais lhes são permitidos? Quais rituais criam ou usam no confronto com essa realidade? Como essas crianças são apoiadas? Que peso tem a perda por morte nas suas relações? Questões como essas pretendem ser respondidas neste artigo por meio da leitura do conto O beijo da palavrinha. E quando se toma a criança como ator social, ela está sendo reconhecida dentro de um papel ativo que, segundo a teoria da “reprodução interpretativa”, lhe confere a assimilação seletiva do mundo dos adultos. Nessa perspectiva, o conceito de reprodução interpretativa introduz aspectos inovadores da participação da criança na sociedade, indicando, através dos episódios de brincadeira registrados em suas pesquisas etnográficas, que “as crianças criam e participam de suas culturas de pares singulares por meio da apropriação de informações do mundo adulto de forma a atender seus interesses próprios enquanto crianças”.
Palavras-chave: Morte, Luto, Literatura Africana, Literatura Infanto-Juvenil, Contexto Sociocultural