Apesar de ao longo dos últimos anos a literatura de cordel estar sendo inserida nas escolas, vê-se a necessidade e a importância de se trabalhar esse gênero textual para além do folheto, numa abordagem comparativa, intertextual entre ele e outros gêneros textuais, com a possibilidade de produção de cordel, de explorar a musicalidade nos alunos, a encenação, entre outros aspectos. Acredita-se que o uso desse gênero em sala de aula contribuirá para a formação de leitores mais engajados com a nossa realidade. Para além de um ensino de literatura mais formal, busca-se contribuir para uma formação literária dos alunos a partir de uma concepção interacionista, uma relação dialógica entre professor-aluno. Como base teórica para elaboração do projeto didático, aplicou-se a Estética da Recepção que defende que o texto (materialidade) não é o único elemento do evento literário, há também a conduta do indivíduo/leitor, o que torna necessário que o texto literário se explique e tenha sentidos a partir da interação entre texto e o leitor. Por conseguinte, fez-se uso do método Recepcional, que trabalha a interação entre o texto e o leitor partindo do interesse pessoal do aluno, buscando sempre a ampliação desse interesse primeiro, trabalhando de modo interdisciplinar e intertextual - relacionando o texto literário com os demais gêneros textuais. Na elaboração do projeto didático, os cordéis escolhidos foram “No Forró da Bicharada”, de Apolônio Alves dos Santos, e “Os Animais tem Razão”, de Antônio Francisco. Nosso objetivo foi o de fazer com que os alunos conhecessem as particularidades da literatura de cordel, mostrando suas origens, passando por todo o contexto sócio histórico em que a literatura popular está inserida, conduzindo-os a discutir os elementos temáticos e estruturais dos textos literários e finalmente proporcionar-lhes o exercício da intertextualidade entre textos literários e os demais gêneros, buscando sempre o desenvolvimento de sua plena cidadania através do texto literário. Inevitavelmente, temos que reconhecer a dificuldade atual da leitura do texto literário de forma efetiva em sala de aula. Todavia, percebemos que o mesmo não é impossível, nem tão pouco utópico. O que se faz necessário é que aconteça uma mudança metodológica, social e politica do ensino e dos usos da literatura enquanto ferramenta de emancipação do individuo leitor. Indubitavelmente, acreditamos que só através da/pela literatura há de se formar leitores conscientes, pois reconhecemos que a mesma deve ser vista como um andaime para uma efetiva reflexão social que leve o individuo/leitor à formação integral e ao exercício efetivo/prático da cidadania.