TORRES, Tatiane Milene. Botica ou garrafada: homeopatia ou homeopoética?. Anais ABRALIC Internacional... Campina Grande: Realize Editora, 2013. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/4590>. Acesso em: 24/11/2024 21:18
Em se tratando do estudo comparativo entre o Almanaque Brasileiro Garnier, produzido por uma das últimas filiais francesas no Rio de Janeiro, e o Almanach Hachette, editado pela Librarie Hachette em Paris, propomos a aferição das cidades excelentes, Paris e Rio de Janeiro, por meio da análise de duas propagandas ou almanaquias concernentes a tratamentos terapêuticos, Nutrigène e Pilules Pink, para cura - em um microcosmo popular inscrito no mítico-poético - dos males da modernidade. Tal cotejo inscreve-se no viés popular em consonância com o caráter singelo de tais edições, de baixíssimo custo, e de sua característica preponderante no que tange aos saberes de ordem matafísica e advindos de forças telúricas, para que, por meio da utopia mesclada ao poético, os leitores possam suplantar as problemáticas cotidianas e, ainda, beber do conhecimento ministrado em tais exemplares. Ora, a construção, de tais sítios oníricos enraizados no popular, permite que façamos a inferência segundo a qual os antigos tratamentos naturais, como as garrafadas, os chás e as ervas, agora recebam uma roupagem moderna, em que os antigos pacotes ou sacos, são, doravante, encapsulados e enfrascados, como as Pilules Pink e o Nutrigène, uma espécie de ‘’modernização’’ dos princípios terapêuticos e místicos advindos dos bálsamos populares de outrora. É, pois, na modernidade, que o líquido para sonhar ou de cura para todos os males - como as hodiernas garrafadas ou elixires comercializados em feiras, mercados populares ou estabelecimentos de produtos naturais - é vendido na botica de almanaque, pelo método de ‘’enfrascamento’’ e ‘’encapsulamento’’ das pílulas Pink e dos frascos do Nitrogène, onde se adentra e se tem livre acesso, a preço módico, pelo abrir e fechar de tais exemplares. Destarte, o conhecimento das plantas e de antigos ritos de cura, passados de geração a geração, são modernizados, na chamada Belle Époque carioca e francesa, com os frascos e cápsulas de posologia para deleite e para tratamentos das mais variadas moléstias, mantendo o viés sagrado pelas figuras dos tantos ervateiros, benzedeiros e guérrisseurs - os próprios áugures de almanaque - que, por sua vez, estão em consonância ou atualizam os antigos mitos de Hermes, deus do comércio e da força ou de Hércules, também deidade da força; haja vista que tais medicamentos são indicados para pessoas com debilidade física. É pela tessitura poética, anual, das epopeias francesa e carioca, que o comércio sagrado, de almanaque ou de Hermes, é atualizado, em que sua rapidez, condizente com a velocidade exacerbada da modernidade, pode ser abrandada por meio das pílulas Pink e dos frascos de Nitrogène, os quais curam os males causados justamente por tal aceleração e proporcionam a força, mítica de Hércules, para suplantar as intempéries da vida moderna.