As sementes crioulas utilizadas pelos agricultores familiares advêm de diversas variedades adaptadas às condições locais do ambiente onde são cultivadas, tornando-se assim um material genético de grande importância para os pequenos agricultores, pois representam a sua base alimentar e cultural, o que torna fundamental a manutenção, conservação e resgate das mesmas. São poucos os relatos a respeito da importância das sementes crioulas de hortaliças. Sendo assim, objetivou-se elaborar uma revisão bibliográfica com enfoque em sementes de variedades crioulas de hortaliças e a importância das mesmas. No Brasil, grande parte do cultivo orgânico de hortaliças é feita com sementes convencionais, pois o mercado ainda não dispõe de sementes orgânicas em quantidade e qualidade suficiente para atender toda a demanda, mas o desenvolvimento rural sustentável e a agroecologia estão envolvidos para mudar isto, incentivando o uso de sementes crioulas e sua conservação. Mesmo com o crescimento do sistema orgânico dentro da agricultura, não há muitas informações comparando a qualidade da semente convencional e orgânica/crioula, justificando e demonstrando a importância de estudos que abordem esses aspectos. A conservação da agrobiodiversidade, parte importante e mais próxima das comunidades tradicionais, pode ser o início de uma estratégia de desenvolvimento sustentável para os agricultores familiares de comunidades, sendo importante caracterizar a experiência para buscar as razões que levaram os agricultores a manter esse patrimônio genético, assim como permitir identificar os fatores limitantes e entraves que encontram na perpetuação da experiência. Para ajudar, existe os guardiões das sementes crioulas, que além de manter e assegurar os recursos genéticos, acumulam muitos conhecimentos práticos sobre o processo de cultivo e manejo, assim como sobre seleção e multiplicação dessas sementes. No Brasil, muitas experiências de agricultores e entidades podem exemplificar que é possível a manutenção de espécies e cultivares crioulas e garantir a sua variabilidade genotípica e fenotípica. Um caso muito conhecido acontece na Paraíba, na região semiárida, onde a Articulação do Semiárido Paraibano (ASA-PB) foi responsável pela criação de uma Rede de Bancos de Sementes Comunitárias como estratégia para a conservação das sementes crioulas, conhecidas localmente como “sementes da paixão”, assim, identificou guardiões de sementes e as cultivares que correm risco de extinção as quais foram, de maneira participativa e coletiva, selecionadas e cultivadas. Atenção especial devem ser dadas as medidas de conservação das sementes de variedades crioulas, uma vez que o armazenamento é uma das fases cruciais para a manutenção das qualidades intrínsecas das sementes, fator de importância para o estabelecimento das culturas, especialmente das hortaliças oriundas de sementes crioulas. É sabido que hortaliças oriundas de sementes de variedades crioulas são mais ricas nutricionalmente do que as cultivares modernas, propiciando alimentos mais saudáveis à população, mas é pouco encontrado trabalhos sobre sementes crioulas de hortaliças, a maioria, dá um foco apenas para grandes culturas, como é o exemplo do milho e feijão, demonstrando a importância dos estudos voltados à conservação e manutenção destas sementes, valorizando o modo de produção sustentável interligada.
Referências
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