A seca entre os anos de 1934 e 1936 marcou um período de estiagem que não ficou restrita ao nordeste brasileiro, mas também aos estados de Minas Gerais e São Paulo que sofreram com a falta de chuvas. Depois disso, o dilema vivenciado no sertão nordestino passou a ser encarado como um problema nacional. Neste contexto, diversos artistas passaram a retratar a seca e o sertão em suas obras, dentre os quais se destacaram Graciliano Ramos (1892 – 1953) – com dois romances (São Bernardo, de 1934 e Vidas secas, de 1938) e Cândido Portinari (1903-1962) com a Série Retirantes de 1944, composta pelas seguintes telas: Retirantes, Enterro na Rede e Criança Morta. Assim, o objetivo desta pesquisa qualitativa é analisar as obras do paulista Cândido Portinari, buscando evidenciar o sertão retratado pelo artista em suas pinturas. Para atingir o objetivo proposto foi realizada uma análise documental e iconográfica, pois são as imagens que transmitem a ideia, não de pessoas ou objetos concretos e isolados, mas noções gerais – a fé, a pobreza, o sofrimento, a tristeza – que se chamam personificações ou símbolos. O artista buscou inspiração nas secas do nordeste e do interior de São Paulo, registrando nas telas a dura realidade de famílias nordestinas e de retirantes, bem como todo o sofrimento desse povo. Essa influência fez com que a pintura de Portinari se tornasse um importante instrumento de denúncia social. Os resultados apontam que a seca e a falta de políticas públicas empurram as pessoas para a cidade, ocasionando o inchaço dos centros urbanos, gerando assim o desemprego, o subemprego e a pobreza. O êxodo rural faz com que as pessoas deixem suas casas no campo e migrem para as cidades motivadas pela esperança de uma vida melhor. Nas telas da Série Retirantes, a natureza é um elemento ativo. As carcaças, os cactos, os urubus em revoada, as covas que quebram o achatamento do solo, são o dramático cenário no qual se situam figuras de diferentes consistências e expressividade. Os personagens, mulheres, velhos e crianças, são os heróis, famintos e sem sorte, que, Portinari fixa, não somente em suas telas, mas também em suas composições. Destaca-se que na obra Criança Morta existe um forte engajamento com a vida. A esperança de uma vida melhor parte de uma preocupação fundamental que desemboca em uma decisão de partir para o desconhecido, mesmo que esse desconhecido seja pior que o conhecido, mesmo que a morte esteja sempre presente em suas caminhadas. Esses seres cadavéricos carregam o peso do destino. As telas de Portinari apresentam a situação humana de maneira bastante real. Nela é perceptível a experiência de vazio e a falta de sentido, revelando a alienação do ser humano. A série Retirantes é uma face do país, é também uma pintura-denúncia, é a sensibilidade do pintor usada para denunciar a cruel realidade do país, é uma imagem que fica para a história, e para a humanidade. É impossível não perturbar-se com a situação decrépita e até cadavérica dos personagens. Os cenários retratados pelo artista mostram uma falta de esperança, com animais mortos e nenhum verde ou algo que denote a vida para o sertanejo.