O Parkour, para além de uma atividade física, é uma disciplina fundamentada no método natural de George Hérbert, regulamentado em um sistema de treino baseado em princípios morais e éticos. Sua proposta consiste no desenvolvimento de força física e mental, suscetível de adaptação ao ambiente em múltiplas circunstâncias, a partir do movimento instintivo e intuitivo para a superação de obstáculos físicos e emocionais, tornando o indivíduo útil para si e para o outro. A prática demanda uma imaginativa reformulação das configurações espaciais e corporais, assim como o esforço reflexivo de redescoberta de si próprio. Este estudo se debruça sobre o sentido e as implicações do Parkour na vida dos tracers (praticantes). Neste contexto, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 16 tracers, sendo 15 do sexo masculino e 1 do sexo feminino, com faixa etária de 19 a 37 anos de idade, com experiência de 2 a 9 anos de treino. Os dados foram explorados à luz da Análise de Conteúdo Temática proposta por Bardin. Como resultados, constatam-se as categorias: representações do Parkour na vida dos tracers; a interiorização e o comprometimento com a filosofia imbricada na prática; e, as repercussões da prática na vida dos tracers. Denota-se o Parkour como estilo de vida, método de terapia e instrumento de auto superação, de libertação e de aniquilação do corpo dócil. A assimilação da execução dos movimentos com a filosofia, concerne a apreensão de valores morais e éticos, conferindo, ao Parkour, um caráter disciplinar e transformador. Dentre esses valores, destacam-se o cuidado e respeito ao corpo, ao outro e ao ambiente, a perseverança, a educação, o uso das habilidades para o desenvolvimento de comportamentos pró-sociais e a transcendência das possibilidades espaciais, corporais e emocionais. Neste sentido, o Parkour proporciona mudança de vida, socialização, ampliação da visão de mundo e enfrentamentos de medos e dificuldades. Conforme os resultados, pode-se concluir o papel fundamental do Parkour na construção da personalidade dos praticantes, conduzindo-os a um modo particular de movimentar-se, de perceber seu entorno, de sentir os obstáculos e de atuar em sociedade.