GONÇALVES, Talita Dos Santos. A flexibilidade cognitiva em crianças bilíngues. Anais do I CONEIL... Campina Grande: Realize Editora, 2020. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/72043>. Acesso em: 24/11/2024 19:18
MAIS DA METADE DA POPULAÇÃO MUNDIAL É BILÍNGUE (BIALYSTOK ET AL., 2009). MAS O QUE É SER BILÍNGUE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO? A ESCOLHA DA PERSPECTIVA TEÓRICA (DE CUNHO CULTURAL, SOCIAL, LINGUÍSTICO OU COGNITIVO) IMPLICA UM CONCEITO DIFERENCIADO PARA ESSE FENÔMENO. NESTA PESQUISA, SOB O PONTO DE VISTA DA PSICOLINGUÍSTICA, CONCEBE-SE BILINGUISMO COMO UM FENÔMENO QUE TORNA O INDIVÍDUO CAPAZ DE FUNCIONAR ATIVAMENTE EM DUAS LÍNGUAS OU DIALETOS DE ACORDO COM SUAS NECESSIDADES COMUNICATIVAS DIÁRIAS, TAL COMO PROPOSTO POR GROSJEAN (2010). PELO USO ROTINEIRO E ALTERNADO DE DUAS LÍNGUAS, PESSOAS BILÍNGUES PARECEM TER UM PROCESSAMENTO COGNITIVO DIFERENTE DE SEUS PARES MONOLÍNGUES. POR ISSO, O BILINGUISMO É TEMA DE INVESTIGAÇÃO, CONSIDERANDO MUITAS VARIÁVEIS, COMO IDADE, ESCOLARIDADE, STATUS SOCIOECONÔMICO, GÊNERO, PROCESSAMENTO TÍPICO E ATÍPICO, FUNÇÕES EXECUTIVAS, STATUS DAS LÍNGUAS, TIPO DE INSTRUÇÃO E MUITAS OUTRAS. ENTRE OS COMPONENTES DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS MAIS ESTUDADOS EM RELAÇÃO AO BILINGUISMO ESTÁ A FLEXIBILIDADE COGNITIVA, QUE TRATA-SE DA CAPACIDADE DE MUDAR DE PERSPECTIVA ESPACIAL E INTERPESSOALMENTE (DIAMOND, 2013) OU, NAS PALAVRAS DE BIALYSTOK E VISWANATHAN (2009), A CAPACIDADE DE ALTERNAR ENTRE TAREFAS. NESTE ESTUDO, FOI INVESTIGADA, ESPECIFICAMENTE, A FLEXIBILIDADE COGNITIVA DE CRIANÇAS BILÍNGUES QUE RESIDEM EM UM CONTEXTO DE CONTATO LINGUÍSTICO NA FRONTEIRA ENTRE BRASIL E URUGUAI, AINDA POUCO EXPLORADO, PRIVILEGIANDO O BILINGUISMO PORTUGUÊS/ESPANHOL. O OBJETIVO DO ESTUDO FOI ANALISAR SE HÁ DIFERENÇAS EM ESCOLARES BILÍNGUES (FALANTES DE PORTUGUÊS BRASILEIRO E ESPANHOL) E MONOLÍNGUES (FALANTES DE PORTUGUÊS BRASILEIRO) QUANTO À FLEXIBILIDADE COGNITIVA EM TAREFAS COM ESTÍMULOS VERBAIS E NÃO VERBAIS. PARTICIPARAM DA PESQUISA 23 CRIANÇAS BILÍNGUES E 23 MONOLÍNGUES DO GRUPO CONTROLE (N=46), DISTRIBUÍDAS IGUALMENTE CONFORME IDADE (DE 6 A 8 ANOS DE IDADE) E STATUS SOCIOECONÔMICO, TODOS ADVINDOS DE ESCOLA PÚBLICA. OS PARTICIPANTES FORAM AUTORIZADOS A PARTICIPAR DA PESQUISA PELOS RESPONSÁVEIS POR MEIO DE UM TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO. OS PARTICIPANTES FORAM EXAMINADOS POR MEIO DE TRÊS TAREFAS, UMA COM ESTÍMULOS VERBAIS E DUAS COM ESTÍMULOS NÃO VERBAIS. A TAREFA COM ESTÍMULO VERBAL UTILIZADA FOI O TESTE HAYLING INFANTIL (SIQUEIRA ET AL.; 2016) ENQUANTO AS TAREFAS COM ESTÍMULO NÃO VERBAL FORAM O TESTE DE TRILHAS INFANTIL (TREVISAN; SEABRA, 2012) E O TESTE DOS CINCO DÍGITOS - FDT (SEDÓ; DE PAULA; MALLOY-DINIZ, 2015). EM RELAÇÃO AOS PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE, OS DADOS DESTA PESQUISA FORAM SUBMETIDOS AO TESTE DE NORMALIDADE SHAPIRO-WILK, AO TESTE ESTATÍSTICO NÃO PARAMÉTRICO MANN WHITNEY – TESTE U. CONSIDEROU-SE O ALFA < 0,05. AS ANÁLISES FORAM REALIZADAS POR MEIO DO SOFTWARE ESTATÍSTICO SPSS VERSÃO 17.0. ALÉM DO NÍVEL DE SIGNIFICÂNCIA, O TAMANHO DO EFEITO DAS DIFERENÇAS ENTRE GRUPOS FOI DEFINIDO PELO TESTE COHEN - HEDGES' G - USANDO UMA FERRAMENTA ONLINE. OS DADOS MOSTRAM DIFERENÇAS SIGNIFICATIVAS APENAS NOS TESTES COM ESTÍMULOS NÃO VERBAIS. O GRUPO BILÍNGUE OBTEVE VANTAGEM DE DESEMPENHO EM CINCO MEDIDAS DO TESTE DOS CINCO DÍGITOS - TEMPO DE LEITURA, TEMPO DE CONTAGEM, TEMPO DE ESCOLHA, TEMPO DE ALTERNÂNCIA E ACERTOS DE CONTAGEM, ENQUANTO O GRUPO MONOLÍNGUE NÃO APRESENTOU NENHUMA VANTAGEM. JÁ NO TESTE TRILHAS INFANTIL, O GRUPO MONOLÍNGUE APRESENTOU UMA VANTAGEM EM RELAÇÃO AO GRUPO BILÍNGUE EM UMA MEDIDA DA PARTE B DO TESTE. QUANTO AO TAMANHO DO EFEITO DAS DIFERENÇAS ENTRE OS GRUPOS LINGUÍSTICOS NAS TRÊS TAREFAS, OBSERVA-SE QUE HOUVE EFEITO MODERADO NO TEMPO DA PARTE B DO HAYLING INFANTIL, ACERTOS DE ALTERNÂNCIA DO TESTE DE CINCO DÍGITOS E NO TEMPO DA PARTE A DO TRILHAS INFANTIL. AS MEDIDAS QUE APRESENTARAM EFEITO ALTO NAS DIFERENÇAS FORAM TEMPO DE LEITURA, TEMPO DE CONTAGEM, TEMPO DE ESCOLHA, TEMPO DE ALTERNÂNCIA E ACERTOS DE CONTAGEM DO TESTE DE CINCO DÍGITOS, NOS ESCORES DA PARTE A E NA PARTE B E SEQUÊNCIA DA PARTE B DO TRILHAS INFANTIL. OS RESULTADOS OBTIDOS NESTE ESTUDO INDICAM QUE EXISTE DIFERENÇA SIGNIFICATIVA NO DESEMPENHO ENTRE ESCOLARES BILÍNGUES E MONOLÍNGUES QUANTO À FLEXIBILIDADE COGNITIVA EM TAREFAS COM ESTÍMULOS NÃO VERBAIS. ISTO MOSTRA QUE AS CRIANÇAS BILÍNGUE DEMONSTRARAM NA TAREFA DOS CINCO DÍGITOS MELHOR HABILIDADE PARA ALTERNAR O PENSAMENTO E RESPONDER VERBALMENTE. POR OUTRO LADO, ELAS MOSTRARAM UM PIOR RESULTADO NA SEQUÊNCIA DA PARTE B DO TRILHAS INFANTIL, INDICANDO QUE O GRUPO MONOLÍNGUE DESEMPENHOU MELHOR QUANDO TIVERAM QUE ALTERNAR O PENSAMENTO E A RESPOSTA ERA MOTORA. ALGUNS ESTUDOS MOSTRAM QUE CRIANÇAS BILÍNGUES OBTÉM MELHORES RESULTADOS EM TAREFAS QUE DEPENDEM DE ALTERNÂNCIA DE ATENÇÃO (CARLSON; MELTZOFF, 2008; MARTIN; RHEE; BIALYSTOK, 2008). ASSIM, SE CONJECTURA QUE O BILINGUISMO ESTIMULA A FLEXIBILIDADE COGNITIVA, ESPECIALMENTE QUANDO ELA ENVOLVE UMA RESPOSTA LINGUÍSTICA E VELOCIDADE DE PROCESSAMENTO, MAS NÃO TEM INFLUÊNCIA SOBRE PERCEPÇÃO VISUAL E RESPOSTA MOTORA. O ESTUDO DE LUO, LUK, E BIALYSTOK (2010) MOSTRA QUE O DESEMPENHO DE CRIANÇAS BILÍNGUES EM TAREFAS VERBAIS PODEM SER INFLUENCIADAS PELAS DUAS OU MAIS LÍNGUAS (ACESSO LEXICAL, POR EXEMPLO), AO CONTRÁRIO DE TAREFAS NÃO VERBAIS, EM QUE O GRUPO BILÍNGUE PARECE TER MELHOR TEMPO DE RESPOSTA. POR FIM, OBSERVOU-SE QUE, POR TRATAR-SE DE UM ESTUDO TRANSVERSAL, FOI POSSÍVEL DETERMINAR DIFERENÇAS DE DESEMPENHO ENTRE OS GRUPOS LINGUÍSTICOS EM UM MOMENTO ESPECÍFICO. POR OUTRO LADO, UM ESTUDO LONGITUDINAL, ALÉM DE APORTAR INFORMAÇÕES DE DESEMPENHO, PODERIA INDICAR SE O DESEMPENHO BILÍNGUE MELHORA COM O AVANÇO DA EXPERIÊNCIA DE USO DE DUAS LÍNGUAS OU SE O DESEMPENHO AVANÇA DE ACORDO COM A IDADE E A MATURAÇÃO COGNITIVA. EM SUMA, UM ESTUDO LONGITUDINAL EXIGIRIA UM MAIOR CONTROLE SOBRE GRUPOS E RESULTARIA EM UM BOM DEBATE. EM LINHAS GERAIS, SE EXISTEM OU NÃO BENEFÍCIOS COGNITIVOS RELACIONADOS AO BILINGUISMO, AS FUTURAS INVESTIGAÇÕES PSICOLINGUÍSTICAS CONTINUARÃO TENTANDO DETERMINAR. INDEPENDENTEMENTE DA ABORDAGEM ADOTADA, O BILINGUISMO É E SERÁ SEMPRE UM CAMPO FÉRTIL DE ESTUDOS, DESPERTANDO INQUIETUDES NOS PESQUISADORES FASCINADOS POR COMPORTAMENTOS LINGUÍSTICOS EM MAIS DE UMA LÍNGUA.