O trabalho em questão busca examinar como a pandemia de COVID-19 constrói seu espaço narrativo na ficção científica. Para isso, foi escolhido como corpus o conto “Lázaro” presente na coletânea Gótico Nordestino (2022), de Cristhiano Aguiar. Visando o desenvolvimento da pesquisa, tomou-se como enfoque a relação entre a protagonista Olga e sua avó, que após morrer em decorrência do vírus, revive devido a uma mutação genética. Para esse fim, procura-se analisar como a ficção científica utiliza o elemento dos “lázaros” — nome dado aos infectados que voltam à vida — para abordar concepções sobre envelhecimento e utilidade num cenário distópico. Por isso, também pretende-se investigar noções etaristas reproduzidas pelos personagens, desencadeadas pelo contexto pandêmico. Para tanto, recorre-se aos apontamentos teóricos de Correa (2009), Beauvoir (2018), Haraway (1991) e Mousoutzanis (2011). Por conseguinte, foi possível constatar a pandemia de COVID-19 na ficção científica utiliza de uma atmosfera distópica para retratar não somente um cenário político, ao relatar a degradação e desigualdade social, mas também o horror de um corpo pós-humano modificado por uma ameaça invisível. Ademais, vê-se que os “lázaros”, traduzem a apreensão coletiva da perda de autonomia em decorrência do envelhecer, bem como de se tornar desumanizado.