SILVA, Ana Luiza Fernandes Da. Memória de um território negro na pequena áfrica. Anais do XV ENANPEGE... Campina Grande: Realize Editora, 2023. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/93865>. Acesso em: 25/11/2024 00:29
INTRODUÇÃO O Rio de Janeiro tem o histórico de ser a cidade que mais recebeu escravizado durante três séculos de tráfico Atlântico das populações africanas no Brasil. Segundo a historiadora Monica Lima (2018), em consonância com o africanista Alberto da Costa e Silva, aponta que 60% de africanos foram destinados aos portos do Rio de Janeiro, sendo no Cais do Valongo o maior quantitativo destes portos entre XVIII e início do século XIX. É importante ressaltar que o Brasil foi o último país a abolir o sistema institucionalizado da escravidão. Portanto, é valido abordar, que a cidade do Rio de Janeiro pode ser inserida na termologia cidade negra elabora pelo historiador Sidney Chalhoub. Visto que, o tecido social é marcado pelas significações, práticas e politização de determinados grupos presentes historicamente no território, sendo importante exemplificar que: Em suma, a formação da cidade negra é o processo de luta dos negros no sentido de instituir a política. (…) Ao perseguir capoeiras, demolir cortiços, modificar traçados urbanos — em suma, ao procurar mudar o sentido do desenvolvimento da cidade —, os republicanos atacavam na verdade a memória histórica da busca da liberdade. Eles não simplesmente demoliam casas e removiam entulhos, mas procuravam também desmontar cenários, esvaziar significados penosamente construídos na longa luta da cidade negra contra a escravidão. (CHALHOUB,2011. p.232) Dado este pano de fundo, as lutas pelo reconhecimento da memória social e territorial negra no Rio de Janeiro permeiam as mudanças urbanas em diferentes temporalidades por meio de um imaginário moderno de cidade. Como na governança de Pereira Passos entre 1902 à 1906 e no período de Henrique Dodsworth 1937 a 1945, que segundo o geógrafo Renato Emerson dos Santos foram caracterizadas como políticas de branqueamento populacional que impactaram na constituição de memória de uma cidade negra. Diante do exposto, o processo de luta dos movimentos negros na década de 1980 é fundamental para os avanços e conquistas no reconhecimento da presença negra no território como é o caso da Pequena África. De acordo com o compositor Heitor dos Prazeres, no início do século XX, a dimensão territorial da Pequena África percorre do Porto à Praça Onze na área central do Rio de Janeiro. Tal abordagem tem relação direta com a presença negra já mencionada acima, mas o reconhecimento estatal vem por meio da pressão dos grupos presentes no território e dos movimentos negros para a patrimonização de diferentes temporalidades e espacialidades de lugares de memória negra como: Pedra do Sal, Cais do Valongo, Jardim Suspenso do Valongo entre outros por meio de circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana com o Decreto N.º 34803 de 29 de novembro de 2011. No entanto, é importante ressaltar que de acordo com Santos (2022) a dimensão territorial identificada pelo poder público não condiz com a demarcação de Prazeres, em consonância com a geógrafa Paula Fernandes da Silva (2019), a dimensão racial da cidade está inscrita em diversas camadas da história e foram muitas vezes minimizadas no estudo das cidades e da sua formação. Ao mobilizarmos a categoria explicativa branqueamento do território que tem por analise três dimensões conceituais; branqueamento da cultura, branqueamento da imagem e branqueamento da ocupação, podemos perscrutar os discursos e práticas de gentrificação nas reformas urbanas. Portanto, o presente trabalho tem por objetivo analisar as intervenções urbanísticas no antigo Largo de São Domingos promovidas em dois momentos históricos no século XX (Primeira República e Estado Novo) como também, suas implicações para o reconhecimento do território como negro e pertencente a Pequena África. O Largo situava-se na atual Avenida Presidente Vargas próximo ao DETRAN com a dimensão territorial da Rua Camerino até as proximidades da Praça Tiradentes (na área central da cidade do Rio de Janeiro), demarcação corresponde a de Heitor Prazeres. METODOLOGIA Para o desenvolvimento deste trabalho houve o levantamento bibliográfico, elaboração de planilha e mapeamento das atividades negras e intervenções urbanas por meio das fontes iconográficas digitalizadas do acervo geral da Cidade do Rio de Janeiro e do Instituto Moreira Salles, da plataforma ImagineRio e o acervo da hemeroteca digital da Biblioteca digital com a analise do Jornal do Brasil. Para que possamos desmembrar as fontes, foram mobilizados os procedimentos teóricos-metodológicos sobre a temática do branqueamento e território nas obras de SANTOS (2019), SODRÉ (2002), SANTOS (2003), SKIDMORE (1979), LAO-MONTES (2019) entre outros/as. Autores esses essenciais para a análise da construção dos mecanismos governamentais para o branqueamento do território, além da formação do território brasileiro diante das conjunturas históricas de grupos marginalizados como é o caso da população negra. Outros teóricos são de igual relevância para articular às fontes na construção desta pesquisa como NORA (1993) e POLLAK (1992), para debater as problemáticas de lugar, memória, politicas direcionadas para a preservação da memoria coletiva, apagamento e silenciamento de histórias como é o caso do largo na dimensão nacional da Pequena África. Além disso, pode-se observar em âmbito político e social as disputas de memória produzidas no reconhecimento de determinados territórios. Por fim, mas não menos importante, as leituras sobre o Largo de São Domingos como de MOURA (1995), FRIDMAN (2017) e SANTOS (2022), mesmo que não se dedicam de forma integral à temática, mas nos ajudam a contextualizar o objeto na historiografia, tal como na ampliação de perspectiva territorial da Pequena África e a central de discuta narrativa em torno da mesma. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao retomarmos as discussões acerca da busca de resgate historiográfico e dimensional da Pequena África, o mapeamento das grafagens espaciais negras na Pequena África são fundamentais para compreender os apagamentos da memória negra e branqueamentos promovidos por intervenções urbanas nos discursos de revitalização ou modernização do território. Além de diversas dimensões de experiências negras no espaço urbano em diferentes temporalidades como a demarcação nominal do território, antes conhecido como Campo da Cidade para Campo de São Domingos, está relacionada à inauguração da Capela de São Domingos em 1706, como espaço de uma Irmandade negra. Outrossim, algumas Irmandades negras foram abrigadas nas instalações da Igreja de São Domingos e outras recebem tereno como é o caso da Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia. As diversas irmandades promovem trocas culturais, conflitos étnicos e ainda o poderio institucional no território, bem como a permanência dessas Igrejas até a demolição do Largo em 1943. Além disso, a partir do mapeamento territorial do Largo de São Domingos foram observadas intervenções diretas de branqueamento no território como é a tentativa de modificação nominal reportado no Jornal do Brasil em 1905, a retirada do chafariz ou a abertura de uma avenida que corta e demoliu casas no Largo no período das reformas urbanas de Pereira Passos. E principalmente a intervenção definitiva com a demolida do Largo para abertura da Avenida Presidente Vargas no década de 1940. Assim, após a todas as etapas de leituras, analise das fontes, houve a produção de uma tabela com o mapeamento das intervenções e algumas manifestações negras nos dois contextos já mencionados. Por meio disso, foram desenvolvidas bases cartográficas com indicações dos pontos de modificação urbana, atividades e as irmandades negras presentes no antigo Largo de São Domingos, a temporalidade escolhida dos mapas foi 1910 devido a relação direta o período de nomeação do território por Prazeres. Portanto, como observado, esta pesquisa em andamento obteve como resultados parciais redescobertas de dimensões territoriais negras na Pequena África a partir do Largo. Com o intuito de contribuir para a reivindicação territorial da Pequena África junto aos grupos locais, intelectuais negros e os movimentos negros na promoção de memórias, representações e disputa de lugar no território. Além de apontar as três dimensões do branqueamento formulado por Renato Emerson dos Santos, como o apagamento da sua existência e memória. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto este trabalho buscou relacionar diferentes campos do conhecimento como Geografia, História e Ciência Sociais para abordar o Largo de São Domingos como um território negro do mesmo modo que pertence a Pequena África. Visto que a interdisciplinaridade é uma abordagem metodologicamente estratégica para os estudos raciais frente a políticas de branqueamento no Brasil. Portanto, este trabalho tem por compromisso o resgaste da memória negra na área central do Rio de Janeiro como contribuição para a diáspora negra brasileira e estudos a respeito de relações raciais no século XX. Palavras-chave: Pequena África; Largo de São Domingos; Território; Branqueamento; Rio de Janeiro REFERÊNCIAS PAMPLONA, Patrícia. Lugares de Memória dos Trabalhadores#53: Igreja e Largo de São Domingos de Gusmão,Rio de Janeiro.2020. Disponível em: <https://lehmt.org/lugares-de-memoria-dos-trabalhadores-53-igreja-e-largo-de-sao-domingos-de-gusmao-rio-de-janeiro-rj-patricia-pamplona/ >. Acesso em: jan.2023 LIMA, Monica . História, patrimônio e memória sensível o Cais do Valongo no Rio de Janeiro. Outros Tempos, v. 15, p. 98-111, 2018. Disponível em: <https://www.outrostempos.uema.br/index.php/outros_tempos_uema/article/view/657/pdf.> Acesso em: Jan.2023 CHALHOUB, Sidney. Visões de liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. 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