VENÂNCIO, Rafael et al.. Dissidências eróticas: sexo e poder no século xviii. Anais XII CONAGES... Campina Grande: Realize Editora, 2016. Disponível em: <https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/18445>. Acesso em: 21/11/2024 18:18
Nas obras de ficção, ao longo da história do Ocidente, a figura da prostituta é marcada por uma sensualidade libertina e insaciável ou, no imaginário romântico, como ser ingênuo, desafortunado e, sobretudo, infeliz. Independentemente do prisma ou concepção que se faça acerca da meretriz, ela é vista como sujeito imundo pelo fato de entregar seu corpo aos caprichos de um provável cliente, mediante uma quantia negociada. Esta atitude evidencia sua insurreição aos valores e protocolos judaicos cristãos, sobre os quais se erguem as sociedades ocidentais. Mas, quando, em um dado momento, uma obra procura unificar estes dois pontos de vistas, o resultado é (re)encontrarmos nesta narrativa algo mais do que, simplesmente, preconceitos inerentes das interdições a que somos submetidos pelos ditames da cultura. É o caso do romance escrito e publicado pelo inglês John Cleland em 1749, intitulado Fanny Hill ou Memórias de uma mulher de prazer, onde a personagem central conta, de maneira epistolar, sua vida como uma mulher proscrita, na qual, descobriu o prazer de ceder às pulsões mais primitivas do seu desejo, ao mesmo tempo em que era, inevitavelmente, arrastada ao submundo dos bordéis que, em certos momentos da narrativa, passou a frequentar. Neste sentido, nossa pesquisa numa interface entre os estudos de BAKHTIN (2011) e a literatura libertina, alinhada aos pressupostos teóricos de BATAILLE (1987) e às contribuições históricas de ROBERTS (1998) e BASSERMANN (1968) pretende analisar a protagonista desta história, buscando desvendar qual a imagem externa apreendida pela personagem principal da narrativa em foco.