Direito e literatura são duas áreas do saber que influenciam-se de forma recíproca e continuada. Essas influências podem ser vistas na obra A revolução dos bichos, escrita por George Orwell em 1945, que será analisada por este trabalho usando o método do pensamento complexo, de Edgar Morin. Nos escritos de Orwell, as leis e as metáforas se entrelaçam de forma intensa, os personagens e as situações materializam realidades presentes nas diferentes sociedades, ensejando que a obra vença o tempo e permaneça atual depois de mais de sessenta anos da sua publicação.
Na obra, é possível ver como a força do discurso e a representação da realidade de uma forma intencionalmente distorcida são elementos utilizados para a consecução do poder e a manutenção da submissão e do conformismo da maioria da população. Na Granja do Solar, local onde os bichos da fábula vivem, as leis passam a ser criadas e modificadas ao arbítrio do pequeno grupo detentor do poder, o que produz um descompasso entre as finalidades das regras e o interesse dos bichos em geral.
Essa relação entre a lei e as letras, presente na fábula de Orwell, serve para mostrar uma engrenagem social pautada pela busca do poder dentro das sociedades, desnudando o uso do discurso e da representação da realidade com o fim de conseguir privilégios e se perpetuar no comando.