O corpo humano tem sido submetido a padroniza??es e controle desde muito tempo, provocando-se uma uniformiza??o facilitadora da confec??o de produtos associados ao corpo e do consumo destes a partir de um modelo perfeito. As roupas tem tamanhos estabelecidos, a ergonomia estabelece o padr?o para os m?veis em que habitamos, seja no trabalho, no trajeto cotidiano ou mesmo em nossas casas e lazer. Estamos sempre submetidos ?s medidas do corpo estabelecidas por outrem, e devemos, docilmente, nos adaptar ao mundo. Isso vem mudando recentemente a partir da tomada de consci?ncia e do empoderamento do corpo gordo. A partir dessa mudan?a de perspectiva ser? realizada uma an?lise do romance A gorda (2016) de Isabela Figueiredo, discutindo-se a percep??o de si, press?o est?tica, modifica??o corporal, descoloniza??o e novos modelos corporais.
O artigo far? uma an?lise do romance A gorda (2016), da autora mo?ambicana Isabela Figueiredo procurando compreender as rela??es entre a insatisfa??o pessoal a partir da percep??o negativa de si, motivada por ser gorda, que a narradora apresenta depois de ter feito uma cirurgia redutora.
No romance a narradora, ap?s a morte do pai, decide fazer uma cirurgia para n?o ser mais gorda, e recorda suas rela??es com uma amiga esbelta, com seu namorado (que se afasta dela porque os amigos dizem que ele anda com uma gorda), as reprimendas de sua m?e, etc. Tudo isso visto por uma professora que descreve em cap?tulos com nomes de c?modos de uma casa, como ? habitar o corpo gordo e o novo corpo em que se sente estranha.
Ser?o mapeados os mecanismos da press?o est?tica oriunda da sociedade, fam?lia, amigos e amantes sobre o corpo que se torna t?o inadequado a ponto de ser obrigado a modelar-se de acordo com os ditames uniformes do mundo que rodeia a narradora. Dessa forma, percebe-se que a transforma??o corporal realizada n?o produziu a felicidade esperada, e que a personagem n?o consegue, ao narrar seu passado, perceber momentos em que era realizada, mesmo sendo gorda. ? como se o preconceito e os padr?es est?ticos obliterassem a percep??o de si, filtrando tudo pelo olhar contra o ser gordo. A vida da narradora n?o poderia existir pois sua condi??o de gorda deveria ser eliminada. A coloniza??o do corpo feminino perif?rico (tanto escritora quanto narradora-personagem s?o nascidas em Mo?ambique, portanto oriundas da coloniza??o portuguesa) ser? discutida pensando numa perspectiva do feminismo insterseccional. Pretende-se pensar se h? alternativas para o corpo feminino gordo t?o oprimido e como o romance prop?e (caso o fa?a) de novos modalidaes, e n?o mais modelos, corporais.